já tem muito, muito tempo que quero falar sobre altas habilidades aqui no blog, mas fico protelando, arrastando e – confesso – com um pouco de medo de falar sobre o assunto.
existem mitos em cima de altas habilidades. pouco se fala, pouco se conversa e, quando se vê nas grandes mídias, são quase sempre reportagens que mostram mini gênios, crianças muito acima da média, tratando-as como os futuros albert einstein ou leonardo da vinci da nossa geração.
daí, um tempo atrás, aparecemos em uma reportagem de um jornal local daqui de brasília, conversando sobre o assunto. muita gente veio me procurar, então achei que já estava na hora de contar sobre nossa experiência pessoal (quem quiser, pode assistir a reportagem neste link: https://globoplay.globo.com/v/6983324/)
se você chegou aqui com alguma dúvida relativa a alguma idade e específica ou fase de desenvolvimento, vou escrever o texto quase em ordem cronológica e tentar dividir mais ou menos por idade.
comecemos, então, do começo.
bebê até 2 anos
benjamin é meu primeiro filho. até então, eu não tinha muito contato com outros bebês e crianças pequenas. de vez em quando brincava com algum filho de amiga minha, ou com minha sobrinha mais velha, que mora em são paulo. como eu tinha muita vontade de me tornar mãe, foi com benjoca que coloquei em prática tudo que eu admirava e mais gostava sobre criação de filhos. eu estimulei bastante ele. de forma natural, mas hoje reconheço que foi bastante intensiva também.
de qualquer maneira, desde bebê ele é um menino extremamente curioso, daqueles que mexe em tudo, que não para quieto. mal começou a se arrastar pela casa, ele já queria abrir as portas dos armários e tirar tudo lá de dentro, abrir nossas mochilas e bolsas, colocar roupas, sapatos, botar na boca, ligar o som, botar e tirar as tomadas, acender e apagar as luzes. comportamento típico de um bebê curioso. boa parte dos bebês é assim mesmo.
mas também tinha a tagarelice. era daqueles bebês que “conversava” antes mesmo de saber as palavras. com uns sete meses já “falava” sozinho, ainda que não entendessemos nada. com 10 meses começou a formar pequenas frases como “bô água” (acabou água) ou “dá teta” (pra mamar) e tinha um vocabulário considerável pra um bebê da idade dele (aproximadamente 20 palavras que ele sabia usar com precisão).
com um ano e meio eu não conseguia mais contar quantas palavras tinham em seu vocabulário. ele já batia papo com a gente e sabia flexionar as palavras no plural ou singular, distinguir as coisas por gênero masculino e feminino, grande ou pequeno, alto ou baixo e falava direitinho os verbos no passado, presente e gerúndio. além de praticamente se vestir e se calçar sozinho, ele tinha que escolher o que vestir. é assim até hoje. sabia um monte de música de cor, isso quando não inventava as suas próprias. distinguia cores e formas básicas, reconhecia muitos instrumentos musicais, sabia distinguir os sons dos veículos que passavam na rua e nunca confundia o barulho de um helicóptero com o de um avião, ou de um carro com um caminhão ou moto. nessa mesma época, começou a se interessar pelas letras e eu fiquei meio apavorada dele aprender a ler cedo demais. deixei ele brincar um pouco com as letras mas, quando vi que ele estava aprendendo muito rápido, simplesmente parei de estimular. hoje em dia vejo que isso foi uma bobagem (que na verdade remetia à minha infância, porque aprendi a ler e escrever com 4 anos e fiquei entediada na escola na fase de alfabetização, perto dos 6) e atualmente estimulo meus três de acordo com as áreas de interesse de cada um, sem receios.
2 a 3 anos
lá para os dois anos e meio, ou um pouquinho mais, percebi que ele não tinha entrado na fase do por quê. ele perguntava “o que é isso?”, “de que jeito?”, “onde?”, “aonde?”, “pra onde?”, “quando?”, “pra quê?” e, eventualmente, “por quê?” (leia esse post. é muito engraçado!). e, meus amores, ele nunca saiu dessa fase. ela só piora. hoje, com 8 anos, eu acho que vou enlouquecer, porque o nível de perguntas (e a facilidade com que ele pergunta mil coisas completamente diferentes por minuto) é tão complexo, que eu tenho que ficar com o celular na mão pra saber dar essas respostas.
voltando aos dois anos e tal, as observações e associações dele também eram muito incríveis, além de ter um senso de humor e criatividade fora do sério. um vez eu estava cansada e me deitei no sofá. então ele me disse: “relaxa, mamãe, você tá cansada. bebe uma aguinha e agora respira fundo. isso, relaxa”.
ele também tinha umas questões meio filosóficas, já preocupado para onde as pessoas iam quando morriam ou onde que as pessoas estavam antes delas nascerem.
apesar do vocabulário amplo, da criatividade e das suas sacadas, isso nunca me ligou nenhum sinal de alerta. ele não tinha nenhum talento muito visível, como aquelas crianças que a gente vê na tv que, com 3 anos de idade, já leem, escrevem, fazem conta de cabeça, tocam violoncelo, piano, harpa e aprenderam, sozinhas, a falar fluentemente inglês, alemão, japonês e mandarim.
pelo contrário, algumas coisas me preocupavam, como o seu temperamento forte e sua dificuldade enorme de lidar com frustrações. apesar de ser um menino muito doce e comunicativo, ele tinha uns rompantes de raiva que primeiro eu atribuí à famosa fase dos 2 anos mas que, conforme o tempo passava, parecia apenas piorar (hoje, comparando com as outras duas filhas mais novas, vejo que eram acessos bastante diferentes dos famosos “terrible two”).
veja bem, eu sempre proporcionei uma infância muito livre aos meus filhos, ao mesmo tempo que sempre tive regras muito claras com eles, além de responsabilidades e obrigações para cada idade. benjoca sempre teve uma dificuldade muito grande de lidar com transições. nunca adiantou, do nada, falar: “acabou! vamos embora” que ele simplesmente entrava num surto de raiva quase que instantâneo e era muuuito difícil de racionalizar ou fazê-lo sair disso. então a gente sempre precisou prever, adiantar, transicionar, até que ele estivesse pronto para mudar de atividade.
cheguei a escrever um texto bem bacana sobre como ajudar a criança a mudar de uma atividade para outra sem surtar e deixo aqui pra vocês, caso alguém esteja com dificuldades semelhantes em casa. até hoje eu faço essa técnica disfarçadamente.
a fase de um ano e meio foi difícil. a fase dos dois anos e pouco foi difícil. a fase dos três até uns quatro e meio parecia um pesadelo. ele falava “você não manda em mim” e se opunha a fazer praticamente tudo o que dizíamos a ele. as coisas só iam bem se funcionassem completamente dentro dos parâmetros aceitáveis para ele. na época ele já não era mais filho único e a maioria das pessoas associava isso à chegada da nova irmã. mas sabíamos que tinha algo a mais.
também, por conta da sua cabecinha, que parecia estar maquinando o todo inteiro mil coisas ao mesmo tempo, percebia que era muito difícil para ele se concentrar em uma só tarefa. ao mesmo tempo que era ligado no 220, também parecia disperso e nada o entretia por muito tempo. lembro dele com 4 anos, brincando com sansa numa piscininha de plástico em uma tarde quente quando, no ápice da diversão, ele vira pra mim e pergunta “e depois vai ser qual atividade, mãe?” (esse vídeo é muito fofo! assistam!), já preocupado com o que viria depois.
outra característica que sempre me chamou bastante atenção foi o fato de que ele sempre (sempre!) odiou coisas repetidas. nunca me pediu pra cantar uma música mais de uma vez, ler uma história novamente ou assistir a um desenho repetido. até hoje ele fica p da vida quando uma das irmãs pede pra assistir um desenho que ele já viu, por mais que goste: “eu odeio desenho repetido! é muito chato! eu já sei o que vai acontecer! quero um desenho novo”. desde muito pequenininho ele falava “quero comer outra comida, uma que eu nunca comi na vida” e sempre enjoou fácil dos temperos e dos sabores das coisas.
3 a 4 anos e meio
quando ele começou a ir para a escola, lá para os 3 anos e 7 meses, muitas coisas se ressaltaram: a professora do maternal não poupava nos elogios, falava o quanto ele era desenvolvido, tinha um vocabulário incrível e uma construção de fala impressionante. mostrava os desenhos dele e comparava com o de crianças da mesma idade e falava que o seu traço estava muito acima da média. quando eu perguntava como ele se comportava em sala de aula, ela dizia que ele era maravilhoso. eu perguntava se ele brigava com as crianças ou batia nelas (como fazia em casa) e ela dizia que não. a professora o amava e ele amava sua professora. falava o quanto ele era participativo e sabia sobre os mais variados assuntos abordados em sala. “até parece que ele já ia para a escola antes”, ela dizia. então eu fiquei tranquila. achei que fosse mesmo uma coisa da nossa casa e do ciúme da irmã caçula. alguns meses se passaram na escola nova e ele começou a apresentar em sala de aula comportamentos semelhantes aos de dentro de casa. passou a bater nos colegas, às vezes sem motivo aparente, às vezes por motivos que ele considerava válidos, como defender um coleguinha de uma injustiça. passei a conversar com a professora sobre como ele se portava em casa e algumas coisas que me afligiam. também comecei a pesquisar bastante na internet, lendo artigos de variados psicólogos e pedagogos. comecei pesquisando sobre déficit de atenção e hiperatividade, mas parecia que pouco tinha a ver com ele.
um desses artigos dizia que TDAH poderia ser confundido com altas habilidades e eu, que nunca tinha ouvido falar naquele termo, fui atrás para pesquisar. meu deus! parecia que estavam descrevendo meu filho por completo! eu lembro de passar mais ou menos uma semana virando a noite lendo, lendo, lendo. tinha muito artigo acadêmico sobre o assunto e praticamente nenhum texto pessoal ou blog que falasse a respeito. na verdade, não achei NENHUM relato pessoal de mãe (muito menos pai) sobre o tema.
então decidi procurar a professora dele, pois eu andava muito inquieta com essas questões e suspeitas. um dos artigos que eu li, falava que os professores eram fundamentais na identificação de altas habilidades. ele estava com 3 anos e 11 meses na época. fui fuçar agora e encontrei a mensagem que enviei para ela e vou colar uns trechos abaixo:
“Oi, querida, tudo bem?
Eu queria perguntar algumas coisas a você a respeito do Benjamin, já que ele tem passado boa parte do dia dele com você, em outro ambiente, em um lugar onde ele pode desenvolver relações diferentes e se desfazer de alguns comportamentos “viciados” de dentro de casa, se é que você me entende.
Queria saber como é o comportamento dele dentro de sala, a concentração, a relação dele com os outros amiguinhos. Pelo seu relatório do final de semestre pude ver que ele tem ido muito bem e se adaptou com facilidade.
A minha questão em relação a ele diz mais respeito ao tédio e à falta de concentração dentro de casa. Sinto que o ambiente aqui já não é mais estimulante o suficiente para ele, que ele se entedia com facilidade, não consegue se concentrar por muito tempo a não ser que eu traga algo completamente novo e dê atenção exclusiva a ele (e olhe lá). Tento levá-lo para brincar debaixo do bloco, andar de bicicleta, jogar bola, brincar no parquinho, às vezes sozinho, às vezes com os amigos do prédio.
Em casa é menos estímulo físico e mais estímulo mental mesmo.
Tenho pensado em colocá-lo na natação ou em algum esporte coletivo. Algo para canalizar essa energia dele e de repente trazer mais um pouco de disciplina e senso de coletividade.
Eu sei que existem outros fatores envolvidos, como a presença da irmã ou o meu cansaço excessivo por conta da rotina da casa, cuidados com a Sansa e tantas outras coisas.
Mas não sei te explicar, acho que o Benjamin é especial de alguma maneira. Não sei se é porque com ele eu sou mãe de primeira viagem ainda, por sofrer da síndrome de mãe coruja e achar que o filho é especial e diferente, por ele ser o mais velho e conviver mais com adultos ou se é minha intuição falando que algo pode ser mesmo diferente.
Sempre ouvi outras pessoas elogiando ele de diversas maneiras, especialmente em relação à fala precoce e à sua capacidade de raciocínio, muitas vezes de profundo teor filosófico.
Por outro lado, desde muito pequeno ele foi disperso e inquieto. Eu sinceramente nunca me preocupei com isso porque sempre fui muito a favor de respeitar a individualidade de cada criança, nunca fui muito dada a comparações e sempre defendi que cada criança tem um tempo, um jeito e um ritmo próprios e isso – além de ser respeitado – deve ser levado em consideração ao lidar com cada criança.
Fico com vergonha só de perguntar, mas queria saber se você já trabalhou com crianças com altas habilidades, se já precisou fazer encaminhamento para algum especialista. Eu não tenho nenhum estudo, nenhum diploma, nada, apenas sou uma mãe que tenta se empenhar ao máximo na criação dos seus filhos (por mais que me atrapalhe tanto volta e meia), tentando encarar essa função como um ministério e uma missão.
Cheguei a cogitar a possibilidade de TDAH, mas não sei se enquadra. Apenas queria saber se você poderia observá-lo com carinho e me dizer se acha que ele precisa de algum acompanhamento extra ou se é só uma criança ativa como qualquer outra.
Provavelmente você vai rir da minha cara, dizer que está tudo bem e sinceramente era essa a resposta que eu gostaria de ouvir. Mas, como falei sobre esse meu senso de responsabilidade e sobre essa missão que me foi incumbida, eu quero ter a tranquilidade para saber que estou fazendo por ele aquilo que está ao meu alcance, sem cobrar demais nem deixá-lo deslocado daquilo que é adequado para ele.
Espero que, como mãe e educadora, você me entenda
Beijos de todo o coração e desde já agradecida por ler meu desabafo”
relendo a mensagem (gigantesca), eu consigo ver claramente a angústia de uma mãe que percebe que tem algo diferente com o filho, mas não sabe bem o que. muitas mães me procuram com essa mesma angústia e percebo o tanto que ela é legítima. essa ansiedade pré-diagnóstico é de matar, porque a gente fica se sentindo meio doida, achando que está vendo coisa onde não tem (“chifre em cabeça de cavalo”, como diz minha mãe). além do mais, a gente precisa falar com alguém que entenda o que estamos passando. isso é legítimo. no fundo toda mãe acha seu filho especial, como eu mesma escrevi lá em cima. e eles são, de qualquer maneira.
a resposta da professora foi bem tranquila, bem de pedagoga mesmo, que acha que tá tudo bem, que tá tudo dentro dos conformes, que cada criança tem seu ritmo. mas ela prometeu ficar de olho e, se necessário, encaminhar para a avaliação da sala de recursos de altas habilidades. um trecho da minha resposta à resposta dela também me chamou atenção:
“Como já disse, eu gostaria sinceramente de saber que ele é apenas uma criança igual a todas as outras mas, se ele tiver alguma coisa de diferente, quero dar o acompanhamento e estímulo adequados às suas necessidades.
Não sou a favor de rótulos, mas às vezes certos “diagnósticos” nos fazem ver em que campo estamos trabalhando e nos ajudam a tomar um rumo, inclusive para saber o que é natural da criança e o que vai aquém/além por causa de alguma limitação, condição ou habilidade e, a partir daí, saber conduzi-la no caminho mais adequado.”
e foi essa postura e esse pensamento de que diagnóstico não é rótulo – mas sim uma ferramenta para trabalhar com a criança dentro de suas capacidades e limitações – que me motivou a ir atrás de um neuropsicólogo. não em 2014, época em que conversei com a professora, mas três anos depois, por motivos diferentes.
em algum momento, a pedido meu, a professora solicitou reunião com a coordenadora de altas habilidades da nossa regional de ensino e, depois disso, uma psicóloga. foi uma conversa por um lado tranquilizadora e, por outro lado, era mais uma coisa do tipo “vocês estimulam bastante o seu filho, por isso ele é assim. precisa esperar ele crescer mais um pouco pra ver se ele continua se destacando ou se acaba se igualando às outras crianças”.
cheguei a compartilhar com pouquíssimas amigas próximas a minha desconfiança sobre esse assunto. uma delas me acolheu muito bem, disse que o filho de outra amiga tinha altas habilidades e que a mãe dele, que era professora, vinha fazendo um trabalho lindo com o menino. pra outra amiga, recebi uma resposta bem rasa “mas toda criança não é inteligente? aos olhos de deus, são todas perfeitas”. ficou parecendo, pra mim, que ela tinha entendido que eu achava que meu filho era melhor, superior às outras crianças. deus me livre ter esse pensamento ou essa postura. então preferi não dizer mais nada. com uma terceira amiga – bastante íntima na época – depois de uma ou duas vezes compartilhar minhas angústias, ela disse “luíza, por que você fica procurando um rótulo para seu filho?”. definitivamente aquela não era minha intenção. eu só queria entendê-lo melhor e poder ajudá-lo. então me calei e decidi deixar a vida seguir seu curso. ele ainda era pequeno e tinha ouvido que, nessa idade, não dava pra fechar nenhum tipo de diagnóstico (hoje em dia, sei que é possível SIM). continuei apenas na minha e decidi esquecer do assunto por um tempo. o que fosse pra ser, seria e se revelaria no momento certo.
4 e meio a 5 anos e meio
sai 2014, entra 2015. benjamin, agora, com 4 anos e meio. uma nova professora. a turminha, que antes era de 15 alunos, agora ganhara mais nove crianças e ele passou a ter mais 23 coleguinhas. a professora era menos afetuosa, mas muito expansiva. falava alto, era a personagem principal de todas as peças da escola. benjoca era encantado por ela desde o ano anterior e seu sonho era ser seu aluno. mas aquele ano foi difícil para ele, que ficou bastante agressivo com a chegada de novos colegas. passou a bater em alguns, a pegar brinquedos das mãos dos colegas e destruir. em rompantes de raiva durante a aula, ele já saiu destruindo as construções de lego dos amiguinhos, tomando os desenhos deles, amassando e jogando no chão. nada disso era novo pra mim, pois com frequência ele fazia isso dentro de casa. agora passava a fazer em sala de aula também. por muitas vezes a nova professora veio conversar com a gente no final da aula. a gente sempre ouvia, acolhia e também trazia nossas aflições. queríamos entender o que estava acontecendo para ajudá-lo da melhor maneira possível. no meio do ano percebi que a professora estava cansada daquela situação. ela foi conversar com meu marido com lágrimas nos olhos dizendo mais ou menos isso: “não sei mais o que eu faço. ele não quer me obedecer. ele não aceita um simples não como resposta. eu preciso conversar com ele explicar tudo e ele fica argumentando. nem com meus filhos adolescentes eu falo assim. eu preciso falar com ele como se estivesse falando com um adulto”. a resposta do meu marido foi “então fale como se fosse um adulto. converse, explique. é assim que funciona aqui lá em casa”. achei aquilo o máximo, ao mesmo tempo que fiquei preocupada.
ele, que antes amava ir à escola, agora estava perdendo o interesse. apesar disso, tinha muitos amigos. os pais dos coleguinhas vinham me procurar e dizer “ah, você que é a mãe do benjamin? meu filho só fala dele! diz que eles são melhores amigos”, ainda que benjoca nunca tivesse falado daquele amigo pra mim (até hoje isso acontece. ahahaha!).
além disso, tinham os deveres de casa. era coisa pouca, umas duas vezes por semana, mas ele achava aquilo um saco. falava que era muito chato, muito fácil, que era coisa de bebê. pegava o desenho e ficava ridicularizando, do tipo “olha que bobo, tem que ligar o palhaço ao chapéu de palhaço”. eu nunca fui muito fã de dever de casa para crianças daquele tamanho, mas ficava quieta. uma vez falei a respeito na reunião de pais e todos diziam “meu filho adora! reclama que é pouco. pede pra passar mais”. em agosto, joca completou 5 anos. a essa altura eu já estava grávida de guadalupe, minha terceirinha.
chegou o final daquele ano. na reunião final com todos os pais, a professora abriu espaço para cada um falar sobre o que achou daquele ano, se tinha alguma sugestão ou colocação para fazer. um a um, mães e pais falaram coisas boas e outras nem tanto. chegou minha vez e eu logo comecei a agradecer o quanto benjamin a admirava, o tanto que tinha crescido durante aquele ano (ao final do segundo semestre ele estava bem mais tranquilo e brigando muito menos), mas levantei o questionamento sobre a necessidade daquele tipo de dever de casa para crianças em idade pré escolar. disse que não me opunha a eles levarem tarefinhas, mas que o formato poderia ser repensado. naquele momento, a professora começou a chorar alto, na frente de todos: “me desculpe, eu não soube como lidar com o benjamin! eu fiz de tudo! eu não sei como lidar com ele! desculpe”. esse foi um momento que eu jamais vou esquecer. aquela professora havia passado por muitos problemas pessoais naquele ano, inclusive a perda de um parente próximo. vê-la chorando daquele jeito me desconcertou. me senti a pior pessoa do mundo por ter feito uma pessoa chorar. eu, que estava já com um barrigão enorme e com os hormônios à flor da pele, desabei a chorar junto. saí da minha cadeira, a abracei. aquela cena toda na frente de toda a sala. por sorte joca não estava por perto. me senti uma vilã naquele momento, onde eu estava buscando o melhor para o meu filho, sem ofender nem atacar ninguém. sofri a perda daquela pessoa, me senti péssima por ela ter se sentido daquela maneira. depois uma mãe simplesmente virou para mim e perguntou: “se você não gosta da escola, se seu filho não se adapta a ela, porque você não muda ele de colégio?”. não quis responder, não quis me justificar. só falei qualquer amenidade, conversei com a professora depois, até que ela e eu nos acalmássemos e ficássemos em paz. a reunião terminou e marido e eu voltamos para casa com as crianças.
aquele dia me marcou para sempre e desde então me lembro de como aquela professora sofreu por não entender meu filho apenas por um ano. desde então, nunca mais nos vimos, mas eu continuei tendo que lidar com esse tipo de situação. confesso que o conselho daquela mãe, naquele momento tão delicado, me atingiu provocando um misto de irritação com desesperança. nunca acreditei que mudar de escola fosse a solução, especialmente porque não temos condições financeiras de arcar com uma escola particular. mas não somente isso, também acredito que devemos ser a mudança onde passarmos. que nunca haverá escola perfeita para nossos filhos (e nem eu quero isso!) e que precisamos ensinar nossos filhos a desenvolver resiliência e crescer em situações desconfortáveis.
demoramos mais de três anos para conseguir convencer benjamin a fazer deveres de casa sem reclamar (ainda que não goste). continua sendo chato mas muito, muito mais fácil do que já foi (em algum momento me aprofundo mais nessa questão dos deveres de casa) e, mesmo resistentes, optamos por mudar benjoca de escola. no ano seguinte ele começou em um jardim de infância que foi uma coisa maravilhosa para ele. uma escola onde ele se sentiu muito feliz, à vontade e, passado o momento intenso de adaptação inicial, ele fez bons amigos e foi aceito por todos do jeitinho que ele é.
lembram que eu tinha falado que, lá pelos 3 anos, apesar de se mostrar muito criativo, comunicativo e com uma notável inteligência, ele ainda não tinha nenhum talento muito visível, em que ele se destacasse? pois bem, foi perto dos 4 anos que ele despertou para o desenho. começou a pegar gosto pela coisa. ele não era aquele tipo de criança que, com 2 anos, já fazia desenhos incríveis e avançados para a idade. pra falar a verdade, nessa idade ele mal pegava num lápis, mal parava a bunda sentada pra fazer o que quer que fosse por muito tempo. mas, de repente, ele despertou para o desenho. gostava de desenhar em casa, mas odiava ser cobrado para desenhar, especialmente na escola. hilan, meu marido, desenha muito bem e sempre desenhou com benjoca. mas joca se sentia muito frustrado, porque não conseguia colocar no papel tudo aquilo que tinha em mente. se ele e o pai passassem muito tempo desenhando juntos, sempre chegava aquele momento de rompante de raiva, onde benjamin começava a gritar, chorar e quebrar tudo. isso, pra mim, sempre foi uma das coisas mais difíceis de lidar com ele, porque ele se sente tão, mas tão frustrado, que a frustração parece que vai pra mão e ele quer descontar no que vier à frente.
mas aos poucos foi aprendendo a desenhar melhor. até o dia em que ele voltou justamente da escola, feliz da vida, dizendo: “hoje eu consegui desenhar no papel tudinho que estava na minha cabeça” e eu podia ver o orgulho dele e entender claramente que aqueles acessos de frustração eram justamente porque sua coordenação motora ainda não correspondia à sua imaginação. até hoje ele lembra desse momento, quando vê o desenho que guardamos.
outro desses momentos que marcou muito foi quando – também aos 4 anos – ele estava folheando um jornal e apareceu uma reportagem pequena sobre um artista que ia expor em um museu aqui em brasília. na foto aparecia o artista, mais velho, rodeado por seus quadros. benjamin ficou encantado e – óbvio – queria saber tudo sobre aquele homem, aquela foto, aqueles quadros e o que a matéria dizia. “qual é o nome dele?” “carlos bracher, um artista importante na cena brasiliense e brasileira”. então, muito determinado, ele disse “quando começa essa exposição? quero ir para ver”. levamos ele no dia da abertura da exposição. enquanto ele via todas as obras, encantado, bracher passou na nossa frente. benjoca que o reconheceu e pediu para falarmos com ele. o artista foi bastante atencioso e até viu um desenho que joca tinha criado e fez questão de mostrar ao novo “amigo”. mais tarde, bracher fez uma pintura ao vivo e benjoca não desgrudava o olho. então percebi que aquele dia tinha marcado sua vida para sempre. “hoje eu fiz um amigo artista” e era muito claro o brilho que acendeu naqueles olhinhos vivos e naquela mente inquieta. eu quase conseguia ver a olho nu sua veia artística pulsando com vigor. voltou para casa, pegou um daqueles papéis da exposição que continha foto de uma obra do carlos bracher, e decidiu reproduzir. com 4 anos eu consegui perceber que a noção de perspectiva, proporção, luz, sombra e cores daquele menino era algo fora do padrão.
publiquei a foto desse desenho em algum lugar e, pouco tempo depois, recebi de um dono de uma galeria-café daqui de brasília o convite para que benjamin expusesse um ou dois desenhos em uma exposição infanto-juvenil coletiva, chamada “vale tudo”. benjoca ficou tão animado com o convite que decidiu fazer mais uma obra, dessa vez da cabeça dele. chamou-a de piteco. filmei todo o processo que, no vídeo abaixo, leva apenas quatro minutos mas, na prática, levou uma tarde toda, com pausa para descanso e com direito a milhares de distrações no meio do caminho (justamente por essa dificuldade que ele tinha de ficar quieto e se concentrar em apenas uma coisa por vez).
enviamos os desenhos e, passado algum tempo, chegou o dia da exposição. ele estava muito animado! quando chegamos ao café e descemos à galeria, joca tomou um baque: havia obras de outras crianças por toda a galeria, ocupando as paredes de algumas mesas. desenhos, esculturas, instalações, quadrinhos tomavam conta do espaço. ele olhava para todas com uma cara meio desconfiada, meio desdenhosa e um tanto apressada, até que seu olho encontrou suas obras. ele olhou, olhou, encheu os olhos de lágrimas e pediu para sair. do lado de fora, benjoca explodiu em raiva: “esses desenhos são horríveis! eu não gostei! quero ir embora daqui”. apesar de ter conversado com ele que aquela era uma exposição coletiva, acho que ele não havia registrado que aquilo não era algo sobre ele, mas sobre várias crianças. e até hoje nunca tive a certeza se essa tinha sido uma reação de frustração, de inveja ou qualquer outro sentimento que nem eu – muito menos ele – soube identificar. de qualquer maneira, ele entrou numa fase desenhadeira maravilhosa. ele finalmente havia pegado gosto pela coisa.
lembram da escola? pois é, os desenhos sempre foram um excelente termômetro para mostrar se ele estava indo bem ou não na escola. naquele ano onde a professora “não deu conta” dele, benjoca havia começado o ano letivo com desenhos incríveis mas, meses depois, seus desenhos começaram a aparecer todos amassados e rabiscados. comparando o primeiro semestre com o segundo, a gente via a clara diferença: no primeiro, desenhos coloridos, criativos, cheios de detalhes; no segundo, desenhos incompletos, rabiscados, apressados. um deles me chamou atenção: era uma folha pintada inteira de preto. em outros desenhos, o papel chegava a rasgar onde ele fazia muita pressão. muitas tarefas de sala de aula não feitas, ou estavam coloridas de qualquer jeito. no ano seguinte, quando mudou de escola, os desenhos voltaram a todo vapor e aquele foi um ano muito criativo e produtivo para ele. 2016 foi o ano em que benjoca se encontrou com o grafitti.
eu, luíza, odeio desenhar. meus desenhos são horríveis. quando faço algum desenho, benjoca fica me zoando, dizendo que tá horrível. e é verdade. desde os 5 anos ele desenha muuuito melhor que eu e muito adulto por aí. mas não por isso eu deixo de estimulá-lo. sorte dele que existe o pai pra dar uma força nisso daí. mas tem uma coisa que eu faço questão é de levar ele pra conhecer diversas exposições, obras e artistas.
ele ficava muito de olho nos grafittis daqui de brasília, sempre que passávamos de carro a caminho da escola. um dia fiquei sabendo, através de um convite de evento de facebook, que um desses grafiteiros iria pintar a fachada de uma loja. era domingo, horário de almoço, todo mundo com fome, mas decidi dar um pulinho rápido pra que ele visse o artista trabalhando. mikael guedes, também conhecido como omik, é um artista talentosíssimo da nossa cidade. lá estava ele, pintando um flamingo. “olha, filho, esse que é o omik”. benjoca ficou imóvel, assistindo o artista trabalhar de longe. até então eu nunca tinha visto meu filho tanto tempo parado e concentrado em alguma coisa. ele ficou imóvel e, o mais impressionante: calado. passou uns dez minutos sem perguntar nada, sem falar um “a” sequer. omik deu um tempo para descansar e lá fomos nós, pra que ele se apresentasse. benjoca desatou a falar, mostrou seus desenhos no instagram, que deixaram o cara impressionado. mikael foi muito, muito atencioso. aquilo me emocionou e me emociona até hoje, porque esse foi um segundo momento marcante. até mais que o primeiro. o encontro de joca e bracher foi um começo. mas o de joca e omik foi revelador. o cara deixou benjoca pintar junto com ele. assim, né?, meu pequeno mal tinha força nos dedos para apertar o spray da lata, mas ele saiu de lá tão feliz, tão confiante e falando muito sobre o seu “amigo artista”.
outras vezes ele encontrou omik grafitando na rua. e virou minha missão apresentá-lo a outros grafiteiros da cidade. ele conheceu figuras conhecidas (principalmente por ele) e acompanhou eles trabalhando. todos sempre muito atenciosos e gentis. todos sempre com palavras de incentivo, mas o maior incentivo de todos era, para ele, ser reconhecido por seu talento por adultos que ele já admirava. benjoca se tornou uma mini figurinha no meio.
mais de um ano se passou até que conhecesse seu grande ídolo, o toys, também conhecido como daniel. em brasília você vê muitos muros decorados e assinados pela dupla toys-omik e um dia, saindo da aula, ele teve o prazer de ver os dois trabalhando juntos pela primeira vez. foi uma festa. e eles o convidaram para pintar uma parte do mural. por mais que ele tenha apenas preenchido uma parte branca de um tênis, agora ele podia bater no peito com orgulho e dizer “eu grafitei com o toys e o omik”. eu acho que eles têm, sim, noção do que fizeram pelo meu filho. mas talvez não tenham dimensão do tamanho do impacto que isso causou na sua auto estima, de confiar em si mesmo. e, por isso, eu serei eternamente grata a todos esses artistas.
ainda houve uma outra vez que ele e sansa pintaram juntos com a siren, também daqui de brasília. e ainda aprenderam que as meninas também podem grafitar e ser tão incríveis quanto os garotos (ou mais. ahahah).
mas nem só de tintas, lápis e telas vive benjamin diener. os adultos que entendem do assunto sempre ficaram muito impressionados com sua coordenação motora e noção espacial. o professor de educação física – que vem acompanhando ele desde o ano passado na escola – sempre vem elogiar o quanto ele é desenvolto fisicamente. benjoca gosta muito de esportes e de usar o corpo para se expressar, também com música. ama dançar! ele frequentou aulas de balé e todo mundo ficou impressionado. fez aula experimental de guitarra e, numa única aula, aprendeu a tocar uma música. o mesmo aconteceu em uma aula de bateria. adora ouvir músicas e cantar, além de sempre ser muito desenvolto diante das câmeras. é a tal veia artística, que nunca deixa de pulsar.
5 e meio a 6 anos e meio
2016 foi um ano intenso, mas muito mais tranquilo. benjoca começou no novo jardim de infância e, apesar de ter tido uma adaptação bastante complicada – onde repetiu aquelas ações de bater nos colegas, amassar e destruir desenhos e legos alheios – ele conseguiu se encontrar naquele espaço. na escola tinha muita atividade ao ar livre. eles passavam pelo menos uma hora no parquinho e havia um espaço gigantesco para correr, jogar bola, subir em árvore, catar sementes e folhas, se sujar de terra. nas terças ele tinha capoeira, nas quintas, atividades na piscina e, às sextas, judô. não era uma escola conteudísta e eles passavam mais tempo fora da sala que dentro dela. ele terminou o ano muito feliz, entrosado e com uma base bem sólida para a alfabetização, conteúdo matemático e muita vivência em situações relacionadas à natureza e vida cotidiana. então eu percebi que, sim, muitas vezes mudar de escola pode ser uma excelente solução, mas a gente não precisa ver isso como a única alternativa. o ano de 2017 seria bastante diferente, mas quero sair um pouco do foco escolar agora.
6 e meio a 7 e meio – o ingresso no ensino fundamental
o ano de 2017 – quando tinha 6 anos – foi, pra mim, o mais difícil até agora. em termos escolares, sim, mas também na dificuldade que tivemos de lidar com suas questões, temperamento e ansiedade. ele saiu do jardim de infância e mudou-se para uma escola de ensino fundamental. primeiro ano. alguns colegas da escola anterior foram com ele. mas o formato de escola era diferente. não tinha parquinho, as crianças passavam a maior parte do tempo dentro de sala de aula ou em um pátio coberto. o recreio durava pouco tempo e, na época, era proibido correr na escola. em alguns dias, o recreio era no pátio. em outros, na biblioteca e sala de informática. pra mim, crianças são como passarinhos: se você os enclausura, ficam tristes e param de cantar. e foi o que aconteceu com meu passarinho. a professora também era bastante rígida e extremamente exigente.
eu mencionei como ele tinha uma dificuldade muito grande de lidar com frustrações e foi nesse ano que eu entendi por quê. benjoca se cobra demais. e a professora cobrava demais também. logo, ele passou a se cobrar ainda mais. chegava em casa com desenhos de pintar e ficava muito frustrado se borrava. se escrevia uma letrinha com a perna torta, tinha um acesso de raiva que já chegou a rasgar o próprio dever. ele começou a desenvolver comportamentos rígidos e se apegar muito à rotina. no começo eu pensei “coisa de criança. vai passar”, mas o tempo passava e ele só piorava. cheguei a conversar com a escola e disseram “ele está em fase de adaptação. não é fácil sair do jardim e vir para uma escola de criança grande”. mas as coisas só pareciam piorar, especialmente quando eu via que todas as outras crianças da sala já tinham se adaptado e ele, não. ele começou a ficar doente, a todo dia arrumar uma desculpa diferente para não ir. tinha crises de choro e uma vez ficou quase dois dias sem conseguir andar (um menino repleto de energia como benjamin não consegue fingir por tanto tempo) e cheguei a parar no hospital com ele. já havia seis meses que esperávamos e contávamos com essa adaptação e nada. meio sem saber a quem recorrer, perguntei em um grupo de pais de crianças superdotadas se os filhos deles também eram assim. eis o texto:
“nos primeiros anos de vida achei que fosse normal uma criança se frustrar tanto ou se sentir tão ansiosa ao mudar de atividade repentinamente. Coisa da idade. Mas ele foi crescendo e parece que alguns comportamentos (que melhorariam com a maturidade) vêm se agravando. Sair de casa com ele é uma tarefa homérica, pois precisa arrumar o cabelo de um jeito específico, ele precisa escolher absolutamente todas as peças de roupa (blusa, sapato, calça, meias, cueca) e tudo é um grande trabalho de persuasão.
Não aceita que misturemos sua comida e se recusa a comer determinados alimentos, mas por outro lado precisa temperar excessivamente tudo, com muito sal, muito vinagre, muita pimenta. Pensei que fosse porque não estava sentindo direito o gosto das coisas, mas ele se come um bolo ou doce de festa, reclama que é doce demais e deixa de lado. Coisa de criança, certo?
Na escola está cada vez mais difícil: ele fica extremamente ansioso com os deveres de casa. Faz tudo mentalmente, mas chega na hora de executá-los, fica muito, muito tempo fazendo. Tudo tem que ser perfeito: a letra não pode entortar nem sair da linha, o desenho não pode borrar. Ele já chegou a perder uns 10 minutos corrigindo e escrevendo uma única palavra, terminando a tarefa em lágrimas (isso quando ele não amassa o dever, rasga ou joga fora).
Veja bem: ele faz tudo de cabeça. Soma, subtrai e já está aprendendo intuitivamente algumas operações simples de multiplicação e divisão. Ele fala o resultado em voz alta mas, na hora de colocar no papel, ele surta.
Em época de período letivo ele simplesmente para de desenhar. Seu traço regride e ele (que pode repentinamente fazer 10 desenhos de uma vez só) pode passar semanas – até meses – sem fazer um desenho em casa.
Quando as férias chegam costuma ser um alívio. Mas nem isso foi perdoado nas últimas férias. Ele passou 2 semanas ansioso pra saber quando as aulas voltariam porque ele não queria ter que voltar pra escola. Só esqueceu mesmo na última semana e, depois disso, teve que voltar. E nossa luta começou toda outra vez.
A impressão que eu tenho com ele é que qualquer passo em falso eu vou pisar em um campo minado e o resultado será uma explosão de raiva e frustração.
Esses são alguns exemplos rápidos e corriqueiros que me lembrei agora, mas a verdade é que nossa relação com ele aqui em casa está complicada.
As professoras e psicólogas das escolas pelas quais ele já passou sempre sugerem coisas como “ele está sentindo ciúmes da irmã” ou “ele está querendo chamar atenção” ou mesmo “você precisa colocar mais limites”.
Quem convive mais de perto não poupa nos elogios e vê o tanto que ele é comunicativo, esperto, inteligente.
Se por um lado isso é um desabafo, por outro é uma tentativa de encontrar outras mães e pais que passem por isso pra tentar entender um pouco melhor esse meu menino e poder proporcionar a ele uma vida feliz e saudável em todos os aspectos.”
as respostas me assustaram, pois muitas mães disseram que tinham filhos extremamente parecidos com o que eu havia descrito e eles eram autistas leves ou, como algumas disseram, tinham síndrome de asperger (que é uma manifestação de autismo leve). também tive respostas de neurologista e neuropsicólogos do grupo que disseram que o melhor era fazer uma avaliação, pois ele realmente apresentava características de autismo leve. conversei com a pediatra dele, que é entendida e estudada na área, e ela disse que, apesar de não conviver tanto com benjamin, que seria interessante sim fazer uma avaliação, que tudo apontava pra asperger. eu fiquei bem abalada. conversei com o marido e desandei a ler muito sobre o assunto e conversar com outras mães de crianças autistas. cheguei a ir a uma reunião de pais e mães de autistas. absolutamente todos eram unânimes em encaminhá-lo a um especialista. e alguns ainda reforçavam: “se não fechar diagnóstico, vá em outro” “meu filho passou por três especialistas até receber o laudo”. fui atrás para ver o que eu encontrava pelo sistema público. contatei clínicas de faculdades e outros locais que poderiam fazer a avaliação de forma gratuita ou por um preço mais acessível. eu não tinha dinheiro para bancar isso agora. e ainda fiquei mais aflita ao pensar em todas as terapias e estimulações que eu precisaria levá-lo e pagar para correr atrás do tempo perdido. voltei a questionar as pessoas do grupo, afirmando que meu filho era muito social, tinha um senso de humor incrível, uma coordenação motora de dar inveja em muito adulto. porque eu lia muitas coisas sobre o transtorno do espectro autista que pareciam vestir como uma luva em certos comportamentos dele, enquanto outras coisas simplesmente não tinham nada a ver. mas as pessoas sempre contestavam, dizendo que não existem regras ou padrões, que cada criança é de um jeito. e eu concordo demais com isso.
neuropsicólogo: avaliação e diagnóstico
por fim, tirei dinheiro de onde não podia (uma poupança mixuruca que hoje nem existe mais) e decidi levá-lo a um neuropsicólogo bem recomendado. benjamin tinha acabado sem completar 7 anos. primeiro marido e eu conversamos separadamente e ele, muito paciente e entendido do assunto, disse que não via motivos para nos preocuparmos, que por tudo que tínhamos narrado, estávamos sabendo com lidar bem com benjoca. mas meu coração continuava aflito. meu contra argumento era: “se eu estivesse sabendo lidar bem, não vinha procurar ajuda. eu já não sei mais o que fazer”. então levamos as sessões adiante. eu acompanhei apenas a primeira sessão, onde o neuropsicólogo conversou com ele e depois aplicou uma série de testes (wisc-IV, para os interessados). nas sessões seguintes, joca entrou sozinho.
depois de cinco sessões (o que durou mais de um mês), fomos chamados para conversar. primeiro ele começou a elogiar benjoca, falando o tanto que ele era comunicativo, inteligente, blá blá blá. e logo disse “já te adianto que ele não está dentro do transtorno do espectro autista” – um alívio enorme batendo no fundo – “mas precisamos conversar sobre a avaliação”. pausa. em uma das minhas conversas com o neuro, perguntei se os testes que ele estava aplicando eram somente para o transtorno do espectro autista, ou se avaliava a possibilidade de outros transtornos e síndromes. ele falou que era um teste bastante completo e poderia apontar outras excepcionalidades. despausa. já me perguntei “o que será que é?” e ele explicou que por tudo que foi avaliado, de fato o benjamin apresentava alguns comportamentos do espectro autista, como a rigidez com rotina, algumas manias, a dificuldade de lidar com frustração, mas não se enquadrava em fatores suficientes que fechassem um diagnóstico dentro do espectro autista. mais parecia com o que se chama fenótipo ampliado do autismo, mas absolutamente nada para se preocupar. aliás, pelos testes, ele se mostrou muito desenvolvido em praticamente todas as áreas que foi avaliado, se destacando acima da média das crianças da idade dele. o resultado foi: ele tem coeficiente de inteligência compatível com altas habilidades e superdotação.
se vocês acham que eu senti um alívio nesse momento, se enganam. me deu um peso de responsabilidade gigantesco! ele mesmo explicou que existe esse mito sobre a criança superdotada (tanto que, até então, eu mesma não tinha usado esse termo aqui no post). crianças superdotadas (também conhecidas como crianças com altas habilidades) não são boas em tudo o que fazem. não são pequenos gênios autodidatas que sabem tudo sobre tudo. e, mais importante, crianças superdotadas não são pequenos adultos presos em um corpo de criança. elas são, acima de tudo, crianças, ainda que tenham algumas habilidades acima da média. e uma frase que eu sempre repeti a mim mesma ficava ecoando na minha cabeça “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” (parker, ben, tio. muito maduro, eu sei).
um pouco sobre a minha própria história
foi pesquisando mais a fundo e conversando com minha mãe que eu descobri que eu também tenho altas habilidades. minha mãe descobriu isso quando eu era bem nova. “por que você não me contou?” foi a pergunta que me veio à mente e vem ressoando nos últimos quatro anos na minha cabeça. com 4 anos eu já estava aprendendo a ler e a escrever e me destacava em sala de aula. a professora chamou minha mãe para uma conversa e disse “as dúvidas e questionamentos da luíza estão acima da média da turma. ou eu paro para atender suas necessidades e deixo o resto da turma deslocada ou atendo ao resto da demanda da turma e quem fica deslocada é ela”. não sei se foi tão simples, mas foi assim que chegou para mim. então, no ano seguinte, eu fui adiantada (ou acelerada, como se diz hoje em dia) e comecei o 1º ano do ensino fundamental (na época, jardim 3) com 4 anos de idade.
passei toda a minha vida escolar sendo a mascote da turma. todo início de ano tendo que ouvir piadinhas dos professores “você se enganou de turma! o maternal é em outra sala”. toda a minha vida acadêmica tendo que provar que eu era inteligente, esperta e não só uma menininha fofa com carinha de bebê (porque, convenhamos, até hoje eu tenho cara de pirralha). não só isso, mas sempre me senti meio deslocada em outros meios de convívio, como se minha linha de pensamento, comunicação ou mesmo lógica fosse meio fora da curva. mas eu mesma não soube nomear isso até a minha adolescência. tive anos excelentes na escola, onde fui representante de turma e me dava bem com todo mundo, mas teve vez que entrou e saiu ano e eu não fiz um amigo sequer, em que me escondia na hora do recreio – na biblioteca, na escada de incêndio, em cima da árvore ou até mesmo dentro do banheiro – pra que ninguém notasse que eu viva sozinha e não tinha amigos. na adolescência eu tive uma fase em que decidi não estudar mais nem prestar atenção nas aulas, pra fazer amigos e me entrosar. tava cansada de ser chamada de cdf, nerd, pirralha. eu queria pertencer a um grupo de amigas.
eu tenho plena consciência de que cada criança é única e que é preciso muito mais que habilidades diferentes, síndromes ou transtornos para defini-las. existe toda uma história de vida, o temperamento, a forma como se é criado. então tenho consciência de que a minha história não vai se repetir no meu filho, assim como sei de crianças superdotadas que foram aceleradas um, dois anos e aquilo foi a melhor coisa que poderia acontecer em sua vida escolar.
volta do ao consultório, no dia do diagnóstico, lá estava eu com meu marido, sentados no consultório de frente para o neuropsicólogo e ouvindo aquelas palavras. então veio um peso. a confirmação de tudo que eu vinha suspeitando, agora avaliada minuciosamente e mensurada em números, além de toda uma base de comportamento. veio também um alívio, por saber mais ou menos onde eu estava pisando. desculpa, gente, sou de exatas (apesar de ser um tanto de humanas também) e adoro estudar, conhecer e decifrar padrões. querendo ou não, existe uma base de padrões (com inúmeras variáveis, e uma significante margem de erro, claro) que ajuda a definir uma criança com altas habilidades/superdotação. então algumas coisas param de ser tão nebulosas e passam a ficar mais claras.
também surgiram algumas certeza que me deixaram apreensiva: então será que a vida escolar dele vai ser sempre essa roleta russa? ele terá anos excelentes, onde vai ser desenvolver, aprender, fazer amigos e em outros anos – quando o santo dele não bater com o da professora – aquilo pode se tornar um verdadeiro inferno? eu ouço muitas histórias de adolescentes superdotados que acabaram por abandonar a escola, por não se sentirem motivados e desestimulados. de crianças e jovens com depressão por se sentirem como verdadeiros peixes fora d’água. não é regra. deus me livre lançar essa maldição, mas é sabido que isso acontece e essa é uma das minhas maiores preocupações como mãe. até hoje eu me sinto meio fora do padrão, mas hoje sou adulta, né?
eu só quero que meu filho seja aceito onde ele estiver. que ele se ame exatamente como ele é. claro que eventualmente ele vai fazer uns esforços para se encaixar socialmente. todos nós fazemos esses esforços. mas não quero que a vida dele gire em torno de agradar os outros (e ele tem uma tendência gigantesca de fazer isso, desde muito novo).
um fato é: crianças e adolescentes com altas habilidades/superdotadas têm necessidades educacionais especiais. é um direito deles – previsto por lei – ter uma adaptação curricular, de acordo com as suas necessidades e habilidades e, caso necessário, também é direito deles a aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar.
eu sei que haverá anos leves e anos em que precisarei conversar e lembrar à escola e aos professores desse direito. espero, de coração, que eu nunca precise apelar à lei para que esses direitos sejam atendidos.
vocês não contaram, mas eu sim: foram mais de oito mil e trezentas palavras escritas até agora. e eu tenho certeza de que, se você chegou aqui, é porque tem mesmo interesse nesse assunto. provavelmente por identificação: pode ser comigo ou com meu filho, pode ter a ver com a sua própria história, da sua criança ou de alguém muito próximo. ou não. talvez seja pura curiosidade (estou esperando comentários do tipo “te acompanho desde a gravidez do benjamin”. amo esses!). e, se você chegou até aqui, provavelmente está com mais dúvidas na cabeça do que quando começou. infelizmente, não poderei responder todas, pois não sou especialista em nada, muito menos nesse assunto. mas me coloco à disposição para trocar experiências com quem precisar.
quase um ano se passou desde que recebemos a confirmação do especialista.
sala de recursos de altas habilidades
lembram da reportagem apresentada no começo do texto, que falava sobre a falta de vagas na sala de recursos? quando gravamos a reportagem, benjoca ainda estava esperando ser chamado e isso aconteceu (coincidentemente ou não) na mesma semana em que a matéria foi ao ar. foram 4 anos na fila de espera para o ingresso na sala de recursos de altas habilidades. a fila era gigantesca e, na verdade, acredito que conseguimos progredir nessa fila interminável porque apresentamos o resultado dos testes aplicados pelo neuropsicólogo.
já tem dois meses que ele frequenta a sala de altas habilidades. no começo ele achou meio cansativo, porque tinha que preencher questionários e responder a um monte de perguntas. mas na verdade esse é o começo da avaliação. a sala de altas habilidades passa alguns meses avaliando as crianças a partir da teoria dos três anéis de renzulli, que observa as habilidades acima da média (tanto gerais quanto específicas), a motivação no envolvimento com a tarefa apresentada (capacidade de manter o foco e a perseverança em uma área de interesse) e a criatividade (curiosidade, flexibilidade e originalidade de pensamento). eu acho bastante interessante essa avaliação, porque não é como o outro método, que verifica uma área específica de conhecimento. pode acontecer o caso de uma criança ou adolescente não apresentar coeficiente de inteligência suficiente para enquadrar como superdotação pelo wisc-IV, mas ser extremamente criativa, sensível e habilidosa e ser detectada como superdotada pela pelos anés de renzulli. por isso estou achando bem legal ele ter uma segunda avaliação, desta vez interagindo em grupo e tendo o olhar de profissionais diferentes (a professora da sala de recursos, a psicóloga e a professora da escola regular). acredito que até dezembro a avaliação já terá sido concluída (total de 3 meses sendo observado e avaliado).
já têm dois meses que benjoca frequenta a sala de altas habilidades, uma vez por semana, no contraturno. agora que acostumou a acordar cedo, ele adora. fez amizade com os outros colegas (é uma turma pequena. acho que umas 5 ou 8 crianças, mais ou menos) e tem sido bem legal pra ele encontrar crianças com afinidades parecidas e com esse jeito peculiar de vivenciar o mundo.
às vezes ele me traz as notícias: jogaram jogos de tabuleiro, xadrez, jogos no computador. assistiram um documentário sobre a origem do universo e pesquisaram sobre assuntos correlatos. fizeram experiências científicas para medir o pH de alguns elementos usando suco de repolho roxo. pintaram, fizeram degradê, círculo de cores e mais um tanto de coisas.
terminado esse período de avaliação, as crianças que tiverem suas altas habilidades confirmadas, continuarão na sala e, pelo que eu entendi, poderão focar em algum assunto de interesse/habilidade. quem sabe mais lá pra frente (quando surgir vaga) ele vá para uma sala específica de artes, para conhecer novos materiais e técnicas e aprimorar esse talento tão especial que ele tem. mas vai que não e ele decide focar mais na área acadêmica. vai saber. deixemos que o tempo fale por si.
7 aos 8 anos (tempo atual)
hoje benjoca está com 8 anos e, além de estar curtindo a sala de altas habilidades, está numa fase ótima na escola, agora no segundo ano. logo no início deste ano conversei com a direção da escola, coordenadora e professora. desde então, todos por lá têm sido muito receptivos e a professora tem feito um ótimo trabalho com ele. qual, exatamente, não sei explicar. só sei que está funcionando! ela tem estimulado muito ele e não tem podado sua imaginação e sede de conhecimento (ao contrário, incentiva). ele está ótimo, interessado e nunca mais reclamou de ter que ir à escola – coisa que fazia com grande frequência até então. é totalmente diferente quando os adultos acreditam nas crianças!
seu talento para desenho continua bastante nítido, mas não para por aí. ele mostra uma coordenação motora e desenvoltura corporal muito grandes para a dança e esportes em geral. tem uma facilidade enorme com instrumentos, o que costuma deixar os adultos espantados. demonstra um interesse enorme por coisas da natureza, animais, ecossistemas, bem como histórias dos povos, geografia, mitologia, comportamento humano. depois que aprendeu a ler, lê praticamente um livro por dia. às vezes mais. gosta de contar quantas páginas lê em um dia (ontem mesmo foram 160). isso porque ele gosta demais dos números, de contar, adicionar, subtrair, multiplicar, dividir. e, por falar em ler, benjoca só aprendeu na a ler mesmo com 7 anos de idade. conto isso para desmistificar o pensamento de que toda criança superdotada necessariamente precisa ler e escrever cedo. NÃO.
ontem, do nada, ele me pergunta “mãe, quantas toneladas pesa um caminhão?”. mal me deixou responder, perguntou “eu sou cidadão de onde?” e, na sequência, engatou questionamentos sobre informática, computadores antigos e a invenção da televisão. sem conseguir sequer ver a placa do caminhão que me atingiu, tentei investigar por que ele queria saber tantas coisas diferentes ao mesmo tempo. então ele me explicou que tinha que formar frases com as palavras do ditado e que ele não queria frases bobas como “o caminhão é grande” ou “a televisão é preta”. então saíram frases como “um dos maiores caminhões do mundo é o Liebher t 284 e pesa 661 toneladas” ou “antigamente as televisões eram em preto e branco e não eram acessíveis a todas as pessoas”. depois encontro a frase sobre cidadão, porque era tão complexa que eu nem lembro. já prevejo uma nova saga com o dever de casa, visto que agoras um conjunto de frases já tem que se tornar um guia de curiosidades.
tudo que ele aprende na escola, quer botar em prática em casa. hoje, seu maior problema em ambiente escolar é achar tudo fácil demais e precisar de estímulos extras que sempre o façam sentir-se desafiado, mas que não tenham cara de dever ou obrigação. seu negócio é pensar, perguntar, perguntar, perguntar até que encontre respostas que satisfaçam sua curiosidade. para isso, temos tentado estimulá-lo a chegar às suas próprias conclusões, seja pesquisando na internet, observando e tomando notas do que percebe, formulando hipóteses e testando-as.
confesso que volta e meia conversamos sobre aceleração. esse é um direito dele garantido por lei e sei que passá-lo para uma série adiante seria algo que o estimularia e levaria ele a aprender mais. ele mesmo fala que já queria estar no quarto ou quinto ano, para aprender mais coisas e mais rápido (especialmente quando se compara aos colegas de sala de recursos. alguns já são acelerados). mas, ao mesmo tempo, é muito apegado à turma da escola e aos seus amigos. ele fala que não quer abrir mão disso. eu te entendo, meu filho! você tem a vida inteira pra aprender, mas só se é criança uma vez. além do mais, quem tem amigos, quem ama e é amado, tem tudo nessa vida!
joca tem um senso de justiça muito forte e se preocupa seriamente com injustiças sociais, com a pobreza, com o racismo e tantos outros preconceitos e desigualdades nesse mundo. claro que conversamos muito com ele sobre esses assuntos, mas é algo muito dele também. já vi ele começar a chorar por ver um cachorro abandonado ou entregar todo o dinheiro que tinha consigo para um morador de rua, alegando que ele mesmo já tem tudo que precisa (claro que eu choro junto).
ainda sobre a infindável sede de conhecimento, fiz uma carteirinha para ele em uma biblioteca próxima à sua escola e o ensinei a buscar os livros que procura, pegar emprestado, cuidar e devolver dentro do prazo. isso desenvolve um senso de cuidado e responsabilidade sem estimular o consumismo. e também ensina o valor da pesquisa, visto que vivemos em uma era onde queremos todas as informações na velocidade da luz, caídas prontas no nosso colo. a mente dele já é naturalmente acelerada. ele também precisa aprender a acalmá-la.
falando em acalmar a mente, também temos estratégias para ajudá-lo a sossegar e controlar a ansiedade. uma das coisas que mais funciona é conversar bastante e explicar racionalmente por que é que algumas coisas não são (e nem podem ser) do jeito que ele quer, na hora que ele quer. ensino técnicas para extravasar a raiva e a ansiedade, como massagear o próprio couro cabeludo em momentos de muita agitação, ou ir para fora de casa pra correr ou andar de bicicleta. também funciona às vezes socar um travesseiro ou gritar bem alto com a cara numa almofada. mas uma das coisas que realmente funciona por aqui é apelar para a fé. somos cristãos e ele tem um apetite voraz pela bíblia. então costumo mostrar e citar alguns versículos que o ajudam a ir de encontro (ou confronto) com o que ele vem pensando ou sentindo, como “não andeis ansiosos por coisa alguma”, “aquietai-vos”, “ama ao teu próximo como a ti mesmo”, “façam aos outros o que querem que eles façam a vocês”. além da oração. quando está muito ansioso, nervoso ou com dificuldade de respeitar os outros ao redor (especialmente as irmãs), ele acaba se retirando para o quarto e começa a conversar com deus. é muito bonitinho ouvir ele falando dos seus próprios sentimentos, falando que está bravo, com raiva, frustrado mas, no fim, reconhecendo que errou. após isso ele costuma sair e pedir perdão a quem tiver ofendido. funciona sempre? claro que não! mas são mecanismos que o ajudam a se controlar e até agora tem ido muito bem. a ideia é ter várias opções e ir usando as que funcionam no momento. se alguma deixar de funcionar, apela-se para outra opção. e por aí vai.
outras coisas eu eventualmente faço para ajudá-lo a relaxar, como uma massagem, uns óleos essenciais, afastá-lo um pouco das irmãs caçulas para termos um momentinho só nosso. ou mesmo só dele. todos os três precisam disso. na verdade, eu também preciso de um momento só meu, então é bom ensiná-los a reconhecerem suas limitações e respeitá-las. para o resto, homeopatia. a pediatra dele receitou algumas homeopatias que têm agido magicamente no controle de sua ansiedade. eu vejo uma nítida diferença na sua atitude em relação à escola, à rotina e nas relações familiares (onde o calo sempre aperta).
resumindo, é lindo ver o quanto ele ama aprender, o quanto é criativo e aprende rápido as coisas que gosta. mas também é muito, muuuito cansativo ter que lidar com suas peculiaridades e urgências e curiosidade inesgotável e resistência ao que não é do jeito que ele quer e mais um tanto de coisas. mas, com muito amor, jogo de cintura e muuuita paciência, as coisas sempre se ajeitam. porque isso não diz respeito somente às altas habilidades. também tem a ver com seu temperamento e personalidade. tem a ver com o fato de ser criança. não custa reforçar: o fato dele aprender com facilidade ou falar como uma criança maior (quase como um adulto) não quer dizer que ele seja mais maduro que as outras crianças. e eu preciso sempre fazer um esforço para lembrar que ele é apenas uma criança de 8 anos, que muitas vezes quer o colo da mamãe, quer carinho, quer aconchego.
no final das contas é isso que importa: ele se sentir amado, acolhido e compreendido. e esse esforço sempre vai existir aqui em casa não apenas para ele, mas para todos os meus filhos.
Nossa, que post intenso.
Te acompanho desde a gravidez do Benjamin (sim, é verdade hehehe), e sempre amei acompanhar o desenvolvimento dele e confesso que sempre desconfiei que ele fosse superdotado, ele sempre me pareceu muito inteligente e sensível.
Hoje tenho o meu bebê (que por sinal, se chama Benjamin também ??♀️), e ainda que ele tenha apenas sete meses, faço questão de ler tudo sobre todos os assuntos, pra estar preparada se um dia eu precisar.
Obrigada por compartilhar com a gente tudo isso. Que Deus abençoe vocês sempre e que você é Hilan saibam a cada dia mais como lidar com seus três presentes lindos.
Beijos enormes em vocês cinco ?
Eita, Luíza. Li tudo de um fôlego só, ou seja, estou até roxa. Vou precisar de alguns dias para digerir muito do que você escreveu. Mexeu comigo por tudo que é lado: como mãe, como professora, como coordenadora de escola, como esposa e como a criança que um dia fui. Então, estou liquidificada neste momento. Quando as ideias entratem em decantação eu volto aqui. Um beijo, estou muito grata por ter compartilhado isto. Um abração de quem te entende. Até breve.
Tamo junto! Mãe, professora, história parecida. ❤️
Estou me identificando muito com o texto e com seu pensamento…pra mim (mãe de primeiro viagem e professora), é muito importante que meu filho seja livre, sempre o respeito e assim o ensino a respeitar os outros, mas de fato venho notando um desenvolvimento precoce e sempre me senti a mãe mais orgulhosa pelos comentários e elogios que recebo, inclusive quando eu não estou por perto. Hoje uma amiga me questionou sobre superlotação, que viu uma reportagem e lembrou do meu filho…vim saber mais e encontrei seu texto maravilhoso. Muito obrigada por compartilhar, vou seguir respeitando e observando mais meu Sebastian de 2,8 anos.
Meu Deus do céu não só li tudo como me identifiquei demais, pulei o pré dois porque não queria brincar e sim estudar, sempre tive facilidade demais e me entediava fácil, na quarta série fiz uma prova de matemática toda de cabeça e a professora me acusou de colar, fez meus pais irem até lá e que eu refizesse a prova junto deles. Eu refiz mas criei um bloqueio tão grande com matemática que meus pais tiveram que me por no Kumon na quinta série…eu nunca tinha parado pra pensar no gênio difícil da Luna mas com o seu texto identifiquei ela em tudo até os 3/4 anos do Benjoca, ela explode sempre de frustração, é exigente demais com ela e eu não peso nela não, ela tem só 3 anos e 4 meses…mas o bichinha pra frente. A escola até foi fácil até o momento mas é o primeiro ano dela ainda então fiquei receosa por lembrar de mim nessa fase dos 5, 6…deus queira que seja mais fácil que eu kkkkkkkkk
Luíza!
Eu acompanho vcs desde antes do Benjoca, e meu interesse quando ainda era adolescente pela infância culminou na minha escolha académica pela pedagogia. Adoro ler seus relatos desde sempre, e esse em especial veio ao encontro de uma vontade que vem crescendo há alguns anos: me especializar no processo de aprendizado de crianças com altas habilidades.
Lendo seu texto, também me veio à cabeça o filme extraordinário, e explico o pq: o filme, pra mim, não foi sobre o menino, mas sobre a irmã dele. Meu irmão tem asperger e isso ecoou em mim de uma forma bem peculiar.
Vontade de correr pra Bsb pra tomar um café contigo e trocar figurinhas!
Beijo!
Ah! Me sinto da família hahah
Lu (desculpa a intimidade, mas eu já te sigo há anos!) Falo a você como professora da SEDF: muitas vezes vc vai precisar estar com a lei impressa e praticamente esfregar na cara da direção da escola/regional de ensino e fazer os direitos de Benjamim serem atendidos.
Agora além de pedagoga falo como criança que foi adiantada 2 anos na escola: aconselho você e Hilan a não cederem a esse desejo. O contexto educacional realmente vai estimulá-lo bastante, mas o prejuízo emocional é gigante. Sentir-se deslocado, ser permanentemente cobrado a ser melhor que os outros porque “se tá adiantada é porque sabe mais que os outros”; mais adiante sentir que não cabe naquele meio em que se encontra. Tudo isso detona nosso emocional.
Assim como Benjamim, sempre tive a dificuldade em lidar com frustrações, e me cobrei demais. Hoje, aos 25 anos, tá igual. A diferença é que hoje faço psicoterapia para achar o caminho do equilíbrio emocional/psicológico. E minha bagagem pessoal me faz olhar com respeito e atenção aos meus alunos.
Seu texto me sensibilizou muito para o assunto. Desculpa o textão.
Me identifiquei em tudo… (Te acompanho desde a gravidez dele, até pq meu filho tem exatamente a mesma idade e eu amava acompanhar o desenvolvimento do Joca junto com o do meu)
Meu filho recebeu diagnóstico de TDAH, o pai dele tem, então eu já desconfiava. Porém esses acessos de ira, os questionamentos intensos, as habilidades intelectuais são bem relevantes, e eu não tinha pensado em Altas Habilidades até então…. Muito obrigada por nós relatar TD isso, passei exatamente por todas essas coisas com o meu filho na escola e na família, porém um pouco pior. Ele as vezes pede para morrer, pq não gosta de cometer erros. ? Isso tem me preocupado muito. Vou pedir uma avaliação melhor nesse ponto. Obrigada e bj nos seus pequenos. ?
Boa noite, li seu comentário e não pude deixar de me identificar, meu filho sempre teve “explosões” quando se sente frustrado, ultimamente tbm vem dizendo que queria morrer, está passando por acompanhamentos e avaliações, é muito difícil ouvir isso de uma das pessoas q gnt mais ama no mundo, mas temos q estar próximas e tentar ajudar sempre. Muita força e MTA luz para nós, que Deus ajude e proteja nossos pequenos nessa caminhada.
Definitivamente vcs são pais admiráveis!! Sempre achei linda a forma como vc descreve seus filhos, a forma como vc conhece cada um deles no detalhe. Os posts mensais deles mostram isso claramente e o meu desejo é ter esse olhar com o meu filho também. Benjoca é um menino abençoado por ser quem é e por ter os pais que tem.
Você sabia que muitas escolas oferecem bolsa para alunos com altas habilidades? E Escolas como o Mackenzie Brasília oferecem bolsa por mérito e tem um programa de inclusão para acolher crianças que necessitam de mais. Eles são bem abertos para visitação e apresentação do programa. Tem aula de robótica com lego, e eles criam o tempo todo. Minha filha é das artes rsrsrs e foi o lugar mais acolhedor que encontramos.
Acho bem legal isso. Estudei no Mackenzie quando era adolescente e me sentia um peixe fora dágua no meio daquela galera muito rica, que me olhava de cima abaixo (eu era bolsista). Não sei se hoje em dia ainda é tão elitista, mas peguei abuso de escola particular basicamente por causa do Mackenzie. Até entrar lá eu estudava em escola pública e, inclusive, sofri preconceito da parte de professora de história que me tratava diferente porque eu tinha vindo da rede pública. Mas são águas passadas (mesmo assim quero distância. Ahahahha). De qualquer maneira, já ouvi falar bem e tem uns diferenciais muito interessantes mesmo 🙂
Não é o meu caso/Mas nossa! Que coincidência!(mais ou menos tudo isso). Maravilha o seu compartilhamento. Certas vivências são preciosas. Obrigada.
Olhaaa te acompanho sim desde a gravidez do Benjamim. Me identifiquei demais com seu relato, não levei meu filho em nenhum especialista mas ele é muito conhecido na escola por ser como é. E eu tambem pulei um ano na escola quando criança. Meu filho está super entediado com os deveres “de bebê “. Gostei muito do seu relato e vou pesquisar mais sobre o assunto. Beijos.
Luíza, li cada uma das palavras do post. Sou dessas que te acompanha desde a gestação do Benjoca! Me identifiquei com a sua história e passei a te admirar ainda mais depois desse post. Parabéns pela dedicação na busca incansável por ajuda. Que Deus continue abençoando sua família!
Olá Luiza,
li todo seu texto muito obrigada por tê-lo escrito.
Me identifiquei com cada linha escrita até os 4 anos(idade atual da minha filha). Estamos em um processo de diagnóstico que já dura quase um ano, quando ela tiver 5 anos faremos os testes decisivos.
Conosco começou com uma coisa que todos achavam muito boba e pra mim não era- minha filha colocava tudo na boca- tudo! Não importava o que fosse, pedra, papel, planta, brinquedo. É como se ela “enxergasse através da boca” levei ao médico e o primeiro momento Tbm falaram que era uma das características de Asperger. Mas, o médico decidiu fazer alguns testes com ela e ele além de excluir o diagnóstico de autismo, levantou toda essa questão de altas habilidades.
Minha pergunta para vc é: o Benjamin além de
crises de frustração ele se mostra com dificuldades para gerenciar o emocional como um todo? Por exemplo, quando está muito feliz ou triste. Não só em momentos de frustração.
Se vc puder responder te agradeço enormemente.
Oie. Então, ele á MUITO INTENSO. Em tudo. Tem um lado sensorial muito forte: precisa mexer em tudo, morder tudo, tocar, fuçar. Quebra muitas coisas. Vive cheio de roxos do tanto que esbarra. Quando ele era mais novo, tinha uma coisa que caía, do nada, parado. Tava sentado na cadeira e de repente caía dela. Foi crescendo e foi melhorando, mas aquilo me deixava perplexa. Não preocupada, porque ele não chorava nem reclamava. Raras eram as vezes.
Ele ainda tem essa fase oral muito acentudada. Rói as golas das blusas, coloca tudo na boca especialmente quando está assistindo televisão. Parece que não consegue sossegar nem parado. Comida tem que ser sempre uma explosão de sabores: quer muito sal, muita pimenta (é louco por pimenta), temperos diversos. Adora chupar limão e, se dependesse, comeria toda comida salgada com vinagre e pimenta.
É muito doido isso. Cheguei a cogitar um transtorno sensorial (que é muito comum em autistas). O transtorno sensorial pode ser pra mais (sensory seeker), que é isso de buscar sensações o tempo todo, ou pra menos (sensory avoider), que é a criança que não suporta barulhos altos, não gosta de ser tocada, abraçada, tem agonia de certas texturas, seletividade alimentar acentuada e tal.
Pra falar a verdade, benjoca é um pouco dos dois. Ele também não é muito fã de abraço (dá um abraço meio desajeitado na gente) e morre com barulhos altos, barulho de gente mastigando, etc.
Mas o transtorno sensorial por si só não é suficiente para fechar diagnóstico de autismo (lembra que eu falei que ele tem esse fenótipo ampliado do autismo?) e pode acontecer de outras pessoas não-autistas terem esse transtorno também (provavelmente ele e eu temos)
Acompanho vc pelo Instagram e FB já tem alguns anos. Conheço algumas pessoas próximas a vc (Thirza de Bsb e sua tia Arline e família- de Anapolis)
Não passo por situações parecidas em casa, mas sua história é bem interessante e acho que a gente sempre pode fazer boas reflexões.
Parabéns pelo modo como cria seus filhos! Super beijo!
Aline Regis Pereira de Almeida
Oi Luisa. Não te acompanho desde a gravidez do Benjamin, não. Mas desde que você era uma potencial gestante, kkkk. Obrigada pelo relato. Muito esclarecedor e muito importante para acalmar os ânimos de muitos pais. Por aqui, tenho sogro e cunhado com altas habilidades. O sogro soube trabalhar muito bem este lado, mas o cunhado não, infelizmente. . E é por isso que sinto tanto medo com meu filho mais velho (tenho 3 meninos), com 7 anos. Ele não tem muita habilidade motora e é péssimo (ou eu diria que não se esforça) em qualquer exercício físico. Mas ele não é como as outras crianças… não sei exatamente o que me impressiona ou me deixa irritada…. Sei que a inteligência dele para a idade é de incomodar e já foi motivo de muitas idas às escolas em que estudou e na que estuda atualmente. Já foi cogitada a opção de adianta-lo, mas como vocês e por sugestão da professora dele (equestre já havia sido professora do meu cunhado que eu mencionei acima) optamos por deixar as coisas como estão pois é muito importante ele curtir a infância dele com os amigos, na idade apropriada, já que em casa ele só não se entedia com alguma coisa se estiver lendo ou pesquisando.
Também já fomos motivos de zoiera por parte de outros pais quando mencionamos a questão e, após algumas decepções preferimos ficar quietos já que entendemos que todos os pais – principalmente os de primeira viagem – sempre acham o filho muito inteligente e falar do nosso parecia uma simples bobeira.
Moramos em uma cidade pequenina no interior de SP e existem poucos recursos à disposição que não os convencionais. Por isso, o jeito é ir se adaptando. Eu adorava desafiar meu filho com varias atividades acima da média dele e vê-lo respondendo ao meu estímulo, mas o fato de ter dois filhos menores e o pouco tempo que me sobra me fez deixar que ele se adeque à curiosidade no tempo dele e isso parece ter sido bom, pois hoje me parece que ele está mais próximo em seu jeito e atitudes do restante de sua turma. E tudo o que eu quero é que me filho esteja na média. Nem acima, nem abaixo, pois sofremos nós e eles. Um abraço e desculpe se fui confusa no relato. Correria de quem está aproveitando o tempo enquanto amamenta ??? o mais novo!
Ah que alívio, parece que estou descrevendo minha filha maior. Não imagina o quanto seu texto me ajudou estamos na alfabetização e tudo que li é igualzinho aqui, cada fase, os desenhos (que percebi a diferença em uma exposição na escola) a necessidade de explicações detalhadas e complexas, se vestir (uma tortura em fase de melhora) a fala muito precoce, conjugações etc . Já fomos ao neuropediatra, homeopata, muitas conversas com o pediatra, já li sobre tudo que vc citou e nada encaixa no perfil, mas o texto do Benjoca é a melhor descrição, impressionante! obrigada , conversarei com outros profissionais para tentar esclarecer o nosso caso aqui . Vocês são uma família ótima, bjos.
Primeiro, quero agradecer o post. Sou professora da rede pública de São Paulo e esse tipo de relato é sempre importante para repensarmos nossa prática.
Segundo, eu sugeriria algumas atividades como alguma luta (Kung Fu, Capoeira) ou Yoga, coisas que desafiam ele corporalmente, mas também treinam concentração e encontro com si mesmo. Sim, treinam concentração, pq concentração também é treino. E a separação de corpo e mente (nossa grande falha enquanto sociedade) cai por terra nessas práticas. Embora eu entenda que ele consiga se concentrar numa atividade que gosta, entendo que as habilidades mais caras a nós são o auto conhecimento e o auto controle.
Terceiro que cada família faz pela sua criança o que considera melhor dentro de seus valores e expectativas, mas eu enquanto professora nunca apoiaria a aceleração de turma. Frequentar uma sala de altas habilidades paralelamente eu acho super importante, mas lembrar que escola regular na turma de acordo com a idade da criança como forma de inclusão social, pra ele e pras outras crianças é muito importante, ele e toda a sociedade entender que cada indivíduo é único com suas habilidades e limitações faz parte da educação formal. E a aceleração muitas vezes esbarra em limitações de sociabilidade: embora seja uma criança extremamente perspicaz, a maturidade emocional ainda está em processo e é mais fluido e menos impactante que esse processo aconteça mediado pelos pares de idade parecida. Eu vejo um maior sofrimento emocional em crianças que têm o processo de educação acelerado e uma maior (ainda maior da que já existe) cobrança de si mesmo.
Acho importante entender a escola não só como espaço de conteúdo, mas como espaço de convívio e socialização.
Acho incrível que ele tenha possibilidade de frequentar uma biblioteca pública e um espaço amplo de descoberta e exploração como o quintal da casa de vocês. Acho sim que isso faz toda a diferença na educação dele.
No mais, muito obrigada pelo relato e muita paciência e calma.
Todo indivíduo tem alguma peculiaridade.
Concordo que acelerar a escola não seja uma conduta muito adequada. Eu tive muitos prejuízos emocionais por conta disso.
Luiza, admiro seu olhar atento para seus filhos. Que eu tenha essa sensibilidade e um olhar específico para cada um. Sou professora e depois desse relato, vou me policiar para não podar alunos assim como seu filho. Ainda precisamos avançar muito no campo educacional a ponto de ter esse olhar, que crianças como seu filho, e tantas outras, necessitam por parte de seus educadores. Até porque a minoria recebe um olhar tão atento de seus pais.
Post muito legal e cheio de informações. Infelizmente existe esse péssimo mito da criança superdotada. Quando eu era criança passei por alguns testes e programas para crianças especiais. Entrei na pré alfabetização com 4 anos. Com 16 já tinha terminado o ens médio. Assim como seu filho eu me destacava em desenho e exatas. Por algum motivo eu não sou boa em nada atualmente, sou muito perfeccionista e me frustro demais por não conseguir terminar as coisas que começo. Na vida escolar era um custo eu fazer amigos, era insegura, evitava ao máximo ser notada. Hoje tenho 26 anos, um suado diploma de faculdade (custei formar), depressão, sou casada, desempregada e tenho um filho de 19 meses. No final das contas nada me serviu ser “superdotada”, sinto que sempre foi um entrave na minha vida, não sei pq romantizam essa condição. Eu me desinteresso com facilidade de tudo, isso é horrível! Ainda bem que vc está buscando conduzir seu filho valorizando o que ele gosta e o ajudando a se adaptar a esse mundão. Tenho certeza que ele é e será muito feliz.
Cara, você foi muito certeira no seu comentário. A minha grande preocupação com o Benjamin, no final das contas, é fazer dele uma pessoa resiliente, que resista às adversidades, cresça e amadureça. Que não ache que seu talento é algo que o deixa à frente dos outros, mas uma responsabilidade que foi conferida a ele.
Ele e eu somos extremamente perfeccionistas. Eu sempre achei que isso fosse algo bom e só me toquei que poderia ser péssimo (se não canalizado de forma adequada) quando tinha uns 24 anos. A partir daí, comecei a travar batalhas diárias comigo mesma e essa luta já tem mais de 9 anos. “Antes feito que perfeito”, diz meu marido e, ainda que eu discorde muitas vezes, tenho feito disso meu mantra. Porque muita coisa fica inacabada porque não saiu exatamente como eu idealizei. Não consegui terminar a faculdade porque tinha muita facilidade em algumas matérias e, em outras, era péssima. Aquilo foi me desmotivando, desmotivando e acabei largando. Por que? Porque acostumei a sempre tirar a melhor nota, a sempre ser muito boa, a estudar pouco ou quase nada e, de repente, eu ralava, ralava e não conseguia aprender certas matérias. Minha mente bloqueia dificuldades. Isso daí é coisa que só terapia dá jeito e desde agora tenho tentado ajudar Benjoca a ser mais forte, resistente, perseverante e desapegado também. Tá dando certo. Às vezes ele mesmo chega pra mim e fala “para, mãe, não precisa ficar perfeito. vamos”. Ahahahahah!
A gente sempre vai errar: como pessoa e, especialmente, como mãe. Mas não pode deixar que esse medo de errar paralise a gente.
É um dom, mas pode ser um fardo. E vamos nessa, tentar conduzir tudo da forma mais leve possível.
Beijos
Caraca, me identifiquei muito com alguns aspectos. Fui adiantada na educação infantil também, com o agravante de ter feito um semestre no jardim 2 e o outro no 3. Isso me marcou pra sempre. Tive sérios problemas de socialização até chegar na faculdade, e minha mãe cobrava muito em casa. A média pra mim era 8, e ela vivia reforçando que eu era mais inteligente que os outros e tinha que mostrar mais resultado. Isso me tornou de alguma forma arrogante e insegura ao mesmo tempo!
Por sorte não tive dificuldades acadêmicas, mas em outros setores da vida sim.
Por experiência, não sei se aceleração é adequado. A socialização fica comprometida de alguma forma.
Nunca recebi nenhum tipo de diagnóstico, não sei se tenho alguma condição. E nessas alturas não sei se faz diferença pra mim.
Obrigada Mariana e Luísa por compartilharem esses relatos!
<3
Que texto maravilhoso! É engraçado que a gente tem nossas aflições e fica com medo de estar pirando.Mas, que bom que você foi além, que bom que dividiu essa experiência conosco. Minhas preocupações com a Malu são sempre se ela esta se desenvolvendo bem para sua idade e não se ela é muito desenvolvida. É comum encontrarmos país que se gabariam de situações assim como a sua, mas você teve uma visão mais ampla, sacava a responsabilidade maior, educar já é difícil. Obrigada por dividir.
Luíza,
Te acompanho desde o Dromos (haha).
Sempre te admirei de longe, sendo amiga da Fê.
Você sempre teve alguma coisa a sua volta que trazia segurança e leveza (sei bem que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é… haha).
Já me manifestei aqui algumas vezes, mesmo não tendo nenhuma experiência pessoal com os assuntos (sem casamento ou filhos).
Mas me emocionei DEMAIS com o texto.
Já explico.
Meu irmão é dislexo.
Diagnóstico entre os 12 aos 14 anos.
Aprendeu a LER aos 14.
Sou a irmã mais velha que assistiu e viveu isso de forma "acessória".
Meu pai escrevia letras na areia quando ele tinha 9 anos e ele se irritava e não conseguia entender, enquanto isso o irmão de 6 interagia com meu pai. Meu irmão sentia um ódio, uma raiva, uma injustiça de ser mais velho e não conseguir.
Foram anos de terapia, psicólogos, pedagogos e afins na busca de um "diagnóstico".
Não era burrice nem preguiça, era uma dificuldade, uma limitação que não fazia sentido pra NINGUÉM.
Um dia, num consultório desses da vida, meu pai vê uma revista na sala de espera, lê e conclui: É ISSO QUE MEU FILHO TEM.
E aí começou a saga para achar um profissional que ACREDITASSE NISSO.
Idas a consultas, sessões, terapias… viagem a SP para uma bateria de exames na Associação Brasileira de Dislexia.
É ISSO!
Laudo, lei, escolas.
Escolas (particulares de grande nome aqui no DF) REJEITANDO meu irmão, por não saberem lidar.
Anos de repetição, recuperação e etc.
Vida social dele sempre foi maravilhosa, desenhos a mil, brincadeiras, curiosidades e conhecimentos a mil… mas não peça a ele leituras, contas, redações nem nada.
Veio a saga: minha mãe (principalmente) lendo livros pra ele, eu corrigindo pequenas redações e textos (vez por outra), meu pai ajudando nas curiosidades, discovery channel salvando de monte, e videos de youtube.
Aos 16 ele reprovaria mais uma vez (ainda não tinha começado o ensino médio), meu pai disse: "Filho, quer parar de estudar? Tudo bem. Vamos trabalhar. Vamos procurar outra atividade…"
Nisso meu irmão decidiu que iria SIM estudar e que seria rico (hahaha).
Nunca mais repetiu de ano, recuperação sempre, mas ano não.
Diziam os especialistas: Ele não vai fazer uma segunda língua e nem faculdade… não criem expectativas.
Hoje ele tem 30 anos, trabalha numa multinacional, troca e-mail com gente do mundo inteiro na língua que disseram que ele não aprenderia.
Sofri com ele, não como ele nem como meu pai ou mãe, mas sofri.
Vejo todas essas dificuldades e me emociono sempre, mas dá um orgulho danado de fazer parte dessas histórias.
Benjamin ainda vai te dar MUITO MAIS ORGULHO do que já dá hoje.
Não só pra vc, mas pro pai, pras irmãs.
Ele vai ganhar o mundo do jeito dele.
E vai ser lindo!
*Foi uma história resumida, mas que tenho um mega orgulho de compartilhar… e posso até ter errado alguns dados pq pra mim o que interessa é o resumo. Ele é meu orgulho.
haha
Q lindo relato. Sou professora e tenho alunos com dislexia que se tivessem o apoio da família, como seu irmão teve, também teriam possibilidade de construir uma narrativa como essa. Chorei com esse relato, assim como com o da Luiza. O que toda criança precisa, independente da sua condição específica é amor e empatia.
Adorei… agora estou vendo meu filho é alguns alunos com olhos diferente…. tenho que estudar….ler…refletir…. Obrigada, me despertou essa leitura. Obrigada!
Amei o texto e me enxerguei no Benjamin. Tive uma primeira infância muito maluca, porque sempre tive esse apetite por conhecimento desde que me lembro. Aprendi a ler muito cedo, antes dos 5 anos. Ia passear com meus avós no shopping e lia os nomes das lojas, as vitrines e outdoors do caminho. E bebê então, com meses já falava frases, cantei até o parabéns no meu primeiro aniversário. Ao entrar na primeira série, fui literalmente adiantada de ano porque eu estava atrapalhando o desempenho da sala. Fiz uma prova e passei tranquila. Respondia tudo em voz alta, sempre buscando mais e mais. Ao ser adiantada, sofri muito porque na 2ª série era cobrada caligrafia, o que eu não sabia. E me sentia péssima por não conseguir escrever com letra cursiva. Achava que eu era um ET, sofri bullying e me isolei. Tentei deixar essa sagacidade por saber tudo escondida, mas não funcionou. E eu sempre busquei aprovação do mundo sobre tudo o que fazia (faço isso um pouco até hoje). Amava computação desde cedo, e meu irmão mais velho tava se formando quando eu decidi fazer faculdade de Ciência da Computação. Me identifiquei com muita coisa legal no currículo da faculdade, mas programação (que é o que realmente têm possibilidade de carreira nessa área) eu odiava. O que eu realmente amo fazer é conversar, e ajudar pessoas, e eu conseguia fazer isso com o Suporte Técnico. Mas como essa parte da Informática é desvalorizada real no Brasil, eu larguei a faculdade de mão (e eu ainda estava grávida na época, turbilhão de emoções). Eu consigo fazer bem várias coisas diferentes, mas não amo nada. Não me encontrei, e isso me dói. Essas coisas me marcam muito, porque eu imagino que tô decepcionando o meu eu criança, sabe? Agora tenho 25 anos, um filho de 2 anos maravilhoso (que provavelmente não tenha esse "dom") e não faço ideia do que fazer da minha vida. Gostaria muito de ter tido a oportunidade que o Benjamin tem hoje, e acredito que com todo esse estímulo, o potencial dele é enorme! E se ele se encontrar, vai ser graças a vocês que sempre estiveram do lado dele pra acreditar no que ele realmente queria pra vida dele. Obrigada pelo texto, um beijo pro Benjoca e desculpa o desabafo. 🙂
Bárbara, eu felizmente consegui concluir minha graduação e tudo. Mas olha, essa sensação de pertencimento eu não encontrei em lugar nenhum. Não sei se ela existe. Às vezes eu me vejo como uma rasa entendedora de vários assuntos. E tudo bem também. Eu fico obcecada por um assunto e leio até saturar. Aí acho outra obsessão nova hahahha
Luiza, também te acompanho desde a gestação do Benjamim. rsrs. Inclusive você me "incentivou" a buscar um parto humanizado, o qual vivenciei em toda sua plenitude há 4 anos.
Fico muito feliz em saber que vocês estão no caminho certo para lidar com todas essas particularidades. Que Deus os abençoe sempre nessa cuidado maravilhoso com seus filhos.
Obrigada por compartilhar não só essas experiências, mas tanta coisa que sempre ajuda uma ou outra mãe/pai de primeira viagem.
Um abraço pra família inteira.
Te acompanho desde q o Benjamin é pequeninho e o que sempre admirei é como vc é dedicada em proporcionar o melhor para os seus filhos, o quanto vc é presente e cuidadosa.
Isso é uma inspiração pra mim.
Que Deus continue abençoando a família de vcs e que os três sejam usados por Ele de acordo com a sua vontade. Ele tem um propósito especial na vida de cada um e vai usar toda a capacidade do Benjamin e todo o seu preparo para que ele faça diferença nesse mundo.
Abracos
Estava viajando quando vi que você tinha feito o post sobre altas habilidades, agora sentei pra ler. Eu tenho um filho diferente digamos assim, na escola é como você descreve, altos e baixos, precisa de disciplina, é mimado, quer atenção, é o que costumamos ouvir. Não come muitas coisas, é cheio de manias e regras. A família diz que é super dotado mas eu definitivamente não gosto deste rótulo também… Falava aos seis meses, no começo achei engraçado, depois era assustador um bebê que sabia usar verbo e colocar tudo nas frases no lugar certo. Hoje quando ele fala uma palavra errada eu não permito que corrijam por que simplesmente nunca vivi isso, depois de dois dias a palavra simplesmente é pronunciada de forma correta. Sabe de assuntos em que nunca falamos ou vivemos, se interessa por coisas incomuns as de criança, gosta de brincar com ferramentas, pilhas e moedas. Nunca se machucou com elas e sabe como usar cada uma delas. Enfim, eu procuro tudo sobre o assunto, autismo foi descartado, asperger a escola também descartou e é a primeira vez que vejo algo sobre altas habilidades. Vi uma luz no fim do túnel. Obrigada pelas informações. E só pra constar eu leio seu blog dede a barriga do Benjoca tbm!
Obrigada por compartilhar a experiência de vocês de forma tão detalhada. To emocionada aqui, pois em muitas coisas vejo o meu filho… Um grande abraço pra vocês!!! * Te acompanho desde a gravidez da Sansa.
Nossa Luiza, obrigada, obrigada, obrigada. Não só por mim, mas por todas que leram (sim, li tudo e todos os comentários também). Tenho certeza que você já ajudou muita gente e vai continuar ajudando. Principalmente seu filho.
Também vou contar um pouco da minha história: nunca tive diagnóstico, se a escola quis me adiantar nunca fiquei sabendo, mas eram óbvias para todos minhas altas habilidades. Hoje sou psicóloga e olhando para trás, só tenho a agradecer a sabedoria da minha mãe que nunca promoveu comparação entre os irmãos e nunca me colocou como melhor ou pior. Sofri horrores na adolescência por ser inteligente (as meninas me odiavam) e tenho certeza que seria muito pior se tivesse sido adiantada. Se Benjoca ama os amigos, isso é o mais importante, sem nenhuma sombra de dúvida! Só o amor dos meus amigos e do então namorado, hoje marido, me salvou de não surtar na faculdade, literalmente.
Quando terminei o doutorado, meu marido já era professor numa cidade do interior e comecei a falar para todo mundo que ia virar dondoca. Era meu jeito de lidar com o fato de que mesmo com todo o dom que tinha se anunciado na infância, eu seria dona de casa. Eu queria muito ser mãe, me descobri como cozinheira e tal. Foi um choque tão grande para a família! Ser feliz sem ser destaque acadêmico parecia não ser suficiente para os outros, mas era para mim naquele momento! Alguém com altas habilidades não fracassa na vida porque não se tornou grande cientista. Enfim, acabei conseguindo passar num concurso e hoje sou professora na medicina, para lidar com turmas inteiras cheias de jovens com altas dotações descobrindo que não são os mais inteligentes do mundo… Eu que fugi tanto da medicina encontrei meu lugar aqui.
E toda essa história me preparou para lidar com meu filho, que não tem diagnóstico mas é totalmente fora da turma. O que ele tem ou será eu não sei, mas amor e compreensão ele terá de sobra com certeza!
Enfim, fiz também um textão na esperança de ajudar um pouquinho quem chegue até aqui.
Obrigada de novo!
Escrevi textão e acho que meu comentário se perdeu, enfim.
Queria dizer também que nunca esqueci seu último post antes de anunciar a gravidez da Lupe. O vídeo foi tão foda que abafou aquela dor que você anunciava lá e não quis dar detalhes naquele momento. De novo, obrigada por compartilhar agora que as coisas estão mais claras e o caminho de vocês pode ajudar tanta gente!
Ah pelo visto meu comentário se perdeu mesmo, porque o segundo já está publicado! Então vou escrever de novo hahaha (Sheldon mode on).
Primeiro é agradecer: obrigada, obrigada, obrigada. Por mim e por todas que escreveram comentários (li todos também). Você já ajudou e vai continuar ajudando muita gente com essa história.
Tinha escrito antes textão sobre mim, mas vou resumir: altas dotações sem diagnóstico e sem ter sido adiantada na escola, graças a Deus. Se já sofri horrores na adolescência (as meninas me odiavam por eu ser inteligente) tenho certeza que sofreria muito mais se fosse adiantada. Se Benjoca ama e é amado pelos colegas, isso não tem preço! Ele pode achar agora que o estímulo intelectual é mais importante, mas não é. Só o amor dos meus amigos e do então namorado, hoje marido, me salvou de não surtar na faculdade, literalmente. Se houver mais amor para ele em outro lugar, acho que valeria a pena trocar, mas se for só estímulo intelectual, não vale.
E como a moça de um dos comentários que você respondeu, Luiza, não se tornar cientista/artista ultra reconhecido não é o fim do mundo: o fim é não se amar e não ser amado. Graças a Deus na minha história o amor tomou a frente e se antes havia o peso de que eu tinha que ser o máximo por ser muito acima da média na escola, hoje o foco é simplesmente ser feliz como for possível no momento. E assim me vejo preparada para lidar com meu filhote fora da curva.
Obrigada mais uma vez!
Obrigada pelo texto e obrigada aos comentáristas. Aquietaram nao só meu coracao de mae quanto a crianca que eu fui. Meu filho tem quase 5 anos e, apesar de nao achar que ele seja extamanete superdotado, tem vários comportamentos como o Benjamin e sem dúvida é muito inteligente. Me ajudou a jogar luz sobre o porque das revoltas dele. Na real eu era assim também. Tudo tem que ser respondido e negociado, as explicacoes nunca bastam. O que ajuda na minha casa é muita atividade física porque a cabecinha nao cansa nunca. A escola dele é maravilhosa e lá atividades ao ar livre sao sagradas.
Meu pequeno de 2 anos tem lá seus talentos, mas parece que com ele tenho que explicar cada obviedade da vida, ir corrigindo/esperando com carinho cada palavra enrolada/mal pronunciada, além dele nao tem nocao nenhuma de perigo. Haha tb me cansa muito.
Oi Luiza, passo por situação semelhante com minha filha. Vc poderia compartilhar a indicação do neuropsicólogo que fez a avaliação do seu filho?
Não sei nem o que dizer sobre a importância desse relato pra mim. Estamos em periodo de “investigação” de altas habilidades com a minha filha e me sinto sozinha na multidão, pq não vejo blog, nem página, nem perfil, de mães que falem sobre o assunto. Queria uma coisa mais humana sobre o assunto pra ler e encontrei no seu texto. Se souber de algum grupo, perfil, pessoa no planeta que fale mais sobre o assunto e pudesse indicar, eu ficaria feliz.
Olá! Postei em um grupo sobre minha desconfiança em relação a minha filha e me indicaram seu blog. Parece que vc a descreveu!!! Ela só tem 1 ano e 10 meses, mas já percebo muita diferença nela: ela fala absolutamente tudo desde 1 ano e 3 meses, conversa, flexiona os tempos verbais e plurais corretamente, sabe todas as cores, formas geométricas, conta, sabe o alfabeto completo, soletra palavras, entre outras coisas. Além de ter uma memória assustadora. Lembra de nomes de pessoas e situações que viu / aconteceram apenas uma vez há muitos meses. E o comportamento dela é bem assim, arredio. Tudo tem que ser no tempo dela, é extremamente ansiosa e lida mal com frustração. Quando conto para as pessoas, todos acham que estou "achando minha filha mais especial e inteligente que as outras e que toda mãe é assim". Me vi exatamente como vc descreveu. Quando menciono o comportamento então, dizem que é o terrible two.
Vou colocar ela na creche em abril e, pela data de aniversário, ela tem que entrar no berçário 2. Estou em dúvida pq ela vai estar muito mais adiantada do que as demais crianças. Ao mesmo tempo, tenho receio de insistir no Maternal 1 e prejudicá-la de alguma forma… Por isso, queria fazer logo um teste / avaliação. Você sabe se com a idade dela já é possível?
Oi Luiza,
Tenho um pequeno de 2 anos que já dá alguns sinais de AHSD e a escola me orientou a fazer a avaliação neuropsicológica. Não quero perder tempo, quero poder dar todo o suporte desde já pra ele. Também sou de Brasília e estou perdida ainda sobre o assunto e seu post meajudou bastante. A tal avaliação é bem cara e também não estou em condições financeiras para pagar. Como faço pra me inscrever e tentar fazer essa avaliação pela rede pública, nos núcleos e salas de AH do GDF? Mandei uma msg inbox pra você no facebook.
Parabéns pela sua história, adorei.
Ola amiga li,tudopois tenho duvidas quanto minha filha de 4 aninhos q em muito se parece com seu filho ,ela tem uma memoria enorme ,faz parodias d musicas com facilidade ,sabe o alfabeto ,numeros ,cores e palavras em ingles e ama desenhos tb ela recem entrou para escolinha e esta sendo um horror nao aceita regras ,nao gosta das atividades se isola e faz coisas sosinha hoje hoje teve um pico de raiva e brigou com a professora estou muito triste ,quero muito ajudar minha filha mas nao sei pot onde comessar
Luiza, sigo você e te acompanho a mais ou menos 1 ano, gosto muito dos seus conteúdos e peço autorização para replicá-lo em minhas redes. Muito sucesso p/ vc!
bjs
Paloma
Obrigada por comopartilhar essa experiência ! Geralmente rodamos muito até achar um diagnóstico , uma ajuda!! Compartilho de tudo isso ! São tantas dúvidas e vontade de ajudar nossos filhos !
Nossa!!!! Sou blogueira e fiquei impressionada com a sua dedicação em detalhar e compartilhar, tão intensamente e com detalhes, sua experiência!
Estou aqui iniciando uma pesquisa como vc o fez há alguns anos.
Muito obrigada, foi um mine curso!
Muito sucesso com o seu filhote, com suas filhas e seu esposo, nessa caminhada desafiadora e maravilhosa de ser mãe!
Também sou cristã e creio que devemos fazer o nosso papel, pesquisar, estudar e Deus vai conosco, completando o que não damos conta!!!
Meu abraço carinhoso
Você veio a Terra com uma linda missão e está cumprindo a perfeitamente…Que Deus continue te abençoando e te dando muita sabedoria pra lidar com todas as situações…Muita linda sua história e do Benjamin. Minha filha tem três anos e também já demonstra dom de desenho, fala o dia todo e tem personalidade forte, aprende rápido, já sabe as cores, figuras geométricas, conta até cinco, decora várias músicas, anda de bike antes de completar três anos,não para de perguntar porque, extremamente comunicativa e engraçada, vocabulário vasto… E eu não sei o q fazer para estimula lá , tenho medo de estimular demais. O q eu faço?
Bom dia, Luiza!!
Quero iniciar parabenizando-a pelo seu comentário. Dizer que foi norteador principalmente por você ter descrito cada fase, as suas experiências e como foi a experiência do Bem.
Sou mãe de primeira viagem de uma menina linda de 1 ano e 9 meses que foi indicada para avaliação de altas habilidades com 1 ano e 4 meses, porém com a pandemia não procurei ajuda e tentei fazer de tudo para auxilia-la com os recursos que conhecia e tinha em casa.
Me impressiono com o vocábulo extenso para a idade (português, inglês e algumas palavras em italiano), identifica algumas letras, adora cantar e dançar, desde já quer escolher o que veste, corre o dia todo e todo dia, entre outras peraltices que ficamos de cara. Desde muito nova tem uma personalidade forte e sinto muita dificuldade de alterar ou propor outra atividade para ela.
Sou de Brasília e gostaria de algumas dicas para poder colaborar da melhor forma para o seu desenvolvimento. Você pode me passar o contado do Neuropsicólogo que avaliou o Bem? E depois descrever o que preciso fazer para inscreve-lá nessa sala de altas habilidades?
Desde já agradeço..