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Chamaram meu filho de viado: como lidar com o bullying nas escolas

Bullying nas escolas não deveria existir. A principal lei educacional do Brasil, a Lei 9394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), entende que o ensino nas escolas deve ser feito baseado no “respeito à liberdade e apreço à tolerância”. 

Acontece que essa é uma realidade ainda distante da ideal no ambiente educacional, uma vez que cerca de 38% das escolas brasileiras enfrentam problemas de bullying. Esses dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que a abordagem em sala de aula deve considerar fatores que vão além do ambiente escolar.

De acordo com a psicóloga clínica Cynthia Coelho, as escolas devem adotar uma política de tolerância zero em relação a atitudes hostis na escola, seguindo rigorosamente as orientações do Estatuto da Criança e Adolescente. “É preciso ensinar que bullying é crime, e que deve ser tratado como tal, com o rigor que a lei determina. A criança ou adolescente que pratica bullying e outros tipos de agressão, em geral, também precisa de ajuda e suporte, pois muitas vezes essa pessoa já foi ou é vítima desse tipo de comportamento ou vive algum tipo de sofrimento e adoecimento psíquico ou violência doméstica”, explica a psicóloga. 

O bullying traz diversas consequências negativas para a criança ou adolescente, algumas das quais podem ser irreparáveis. Em 2017, uma série idealizada pela Netflix gerou polêmica ao abordar o lado mais obscuro e amargo do bullying. Ambientada em uma escola, a série mostra o cotidiano de adolescentes, especialmente de Hannah Baker, que decidiu tirar sua própria vida. Ela gravou, em várias fitas, as 13 razões que a levaram a esse ato, dedicando cada uma delas a uma pessoa que contribuía para sua decisão.

Entretanto, quem pensa que atitudes extremas como essa ocorrem apenas nas telas, engana-se. Jornais e pesquisas comprovam que existem muitas Hannahs’ espalhadas pelo Brasil, passando por situações semelhantes à da personagem.

Segundo os dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ouviu 188 mil jovens na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), um em cada cinco jovens brasileiros vítimas de bullying considera que a vida não vale a pena e já pensou em suicídio. Essa situação é alarmante e acabar com essas hostilizações, é essencial a colaboração de todos, incluindo pais, familiares, educadores e a comunidade onde vivem.

Se você não sabe como agir quando seus filhos e filhas estão sofrendo bullying, convidamos você a ler este guia, que vai explorar esse assunto tão delicado e sensível.

O que é bullying?

De origem inglesa, o termo bullying está relacionado à palavra bully, que se refere a alguém tirano, brigão ou valentão. O “ing” da palavra indica uma ação contínua, que ocorre no presente e prolonga no futuro. 

Na prática, um ou mais agressores perseguem, intimidam, depreciam, humilham, debocham e agridem a vítima, de forma recorrente, intencional e prolongada. Os atos de violência, que nem sempre são físicos, não apresentam motivações específicas ou justificáveis. 

Seja por diversão, prazer ou poder, quem pratica bullying está cometendo crime. A Lei 14.811/2024 inclui disposições que tratam do combate ao bullying. Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a lei inclui os crimes de bullying e cyberbullying no Código Penal e transforma crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em hediondos, como o sequestro e a indução à automutilação, conforme informado pelo site da Rádio Senado. Em seu artigo 146, a lei estabelece:

“Intimidação sistemática (bullying)

“Art. 146-A. Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais:

Pena – multa, se a conduta não constituir crime mais grave.

Intimidação sistemática virtual (cyberbullying)

Parágrafo único. Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social, de aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em tempo real:

Pena – reclusão, de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.”

Tipos de bullying

O bullying não é cometido apenas na forma física; ele pode ocorrer de diversas maneiras, conforme o documento do Conselho Nacional de Justiça. Confira os tipos de bullying existentes:

  •  Verbal: insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”;
  • Física e material: bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima;
  • Psicológica e moral: humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar;
  •  Sexual: abusar, violentar, assediar, insinuar;
  • Virtual ou Cyberbullying: bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.

Estudos revelam um leve predomínio dos meninos sobre as meninas na prática de bullying. Os meninos, por serem mais agressivos e utilizarem a força física, tendem a ter suas atitudes mais visíveis. Em contrapartida, as meninas costumam recorrer a intrigas, fofocas e isolamento das colegas, constituindo uma forma mais velada de violência.

Impacto do bullying nas crianças e adolescentes

Quando mencionamos que os danos do bullying podem ser irreparáveis, não estamos sendo sensacionalistas. As consequências dessa violência são variadas e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões, segundo o CNJ. 

Entre os problemas mais comuns, destacam-se: problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos, como transtorno do pânico, depressão, anorexia, bulimia, fobia escolar, fobia social e ansiedade generalizada, entre outros. “O bullying também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio, conforme mencionado no documento.” 

Bullying nas escolas brasileiras

O bullying nas escolas brasileiras atinge crianças e adolescentes por diferentes motivos: a cor da pele, a orientação sexual, a aparência, a presença de deficiência, hábitos ou simplesmente seu modo de ser. Entre as ações que caracterizam essa prática estão os apelidos de ofensivos, xingamentos, insultos e gozações, que afetam a saúde mental da vítima. É inadmissível que uma criança ou adolescente saia de casa livre para estudar e socializar e acabe se tornando reféns de seus agressores, que são crianças ou adolescentes como ela.

O ambiente escolar é repleto de pessoas, e muitos casos de bullying acabam passando despercebidos. Além disso, raramente as vítimas pedem ajuda às autoridades escolares ou aos pais, seja medo ou vergonha. Por isso, é fundamental que todos prestem atenção, tanto no ambiente escolar quanto no doméstico. Nenhuma “brincadeira” que distorce a imagem de uma pessoa deve ser naturalizada, como ocorre em muitos casos. 

Que o  bullying existe em todas as escolas, isso é fato. No entanto, a postura que cada instituição tomará frente aos casos apresentados, é um grande diferencial. Por incrível que pareça, estudos apontam que as escolas públicas têm uma postura mais eficaz no combate ao bullying. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), “a maior fatia de alunos que admitiram ter sofrido com a prática concentram-se no ensino privado. Na escola pública, a parcela dos que reconheceram ter passado por “bullying” cresceu de 28,9% para 39,9%. Já entre alunos da rede privada subiu de 35,5% para 41,5%, no mesmo período.” 

Iniciativas como a da professora Raquel Alves, da rede pública do Distrito Federal, podem servir de exemplo de como a educação pode atuar no combate ao bullying. Ela utilizou a poesia como ferramenta para abordar o tema, o que lhe rendeu o Prêmio Professores do Brasil 2017.

Bullying homofóbico no ambiente escolar

As vítimas de bullying frequentemente recebem diversos termos pejorativos, muitas vezes relacionados à sua orientação sexual ou por conta de suposições feitas pelos agressores sobre essa orientação. Sucessivos xingamentos e bilhetes homofóbicos, chamando-as de “baitola”, “mão quebrada”, “afeminado”, entre muitos outros, iniciam como piadinhas e podem chegar a agressões, gerando marcas profundas. 

Os muitos casos estampados nos jornais e nas redes sociais mostram a ineficiência das instituições de ensino no combate ao bullying. No Brasil, a discriminação de pessoas LGBTQIA+ é considerada crime. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTfobia ao crime de racismo. 

Segundo Ana Paula Brandão, gestora do Projeto Seta, focado em educação antirracista, “quando a escola não está preparada para receber alunos negros, LGBTQIA+ ou portadores de deficiências, o aprendizado e desenvolvimento psicossocial dos estudantes podem ser comprometidos, por falta de motivação e baixa autoestima.”

Consequências do bullying escolar

Muitas crianças não relatam à família ou à escola que são vítimas de bullying por medo, vergonha ou por desconhecer o tema. No entanto, as consequências podem ser percebidas quando os estudantes começam a mudar seu comportamento. Listamos alguns atos para os pais e educadores ficarem atentos.

Resistência a ir à escola

Quando seu filho começa a dar desculpas para não ir à escola, fique atento. Uma grande parte dos alunos não quer frequentar as aulas devido ao medo ou à vergonha.

Desinteresse pela escola

Os alunos vítimas de bullying participam menos das aulas por medo ou vergonha, perdem a motivação, apresentam uma postura retraída, têm faltas frequentes e costumam se mostrar tristes, deprimidos ou aflitos. Também há uma queda na concentração e dispersão em pensamentos de expectativas de um novo ataque.

Isolamento social

Dependendo da personalidade da pessoa, é comum que alguns alunos não queiram interagir e sejam mais reservados, até mesmo em relação à quantidade de amigos. No entanto, quem sofre de bullying têm tendência a serem mais isolados socialmente, até mesmo de seus próprios amigos.

Mudança repentina de comportamento

Podem apresentar perda de apetite, depressão, ansiedade, medo de ir para a escola, insônia, isolamento social e pensamentos suicidas. Ele pode se tornar rapidamente agressivo, agindo sempre na defensiva, além de ter a tristeza e choro sem motivos aparentes.

O que fazer quando seu filho sofre bullying no ambiente e ensino

A identificação do bullying pelos responsáveis é fundamental. Como, em muitos casos, a criança não relata o sofrimento vivenciado na escola, os pais precisam observar o comportamento dos filhos. Por isso, é importante que os responsáveis conversem com seus filhos e se interessem pela rotina deles. Listamos algumas ações que os pais podem tomar:

  • Demonstrar apoio e acolha a criança ou adolescente;
  • Valorizar as qualidades da vítima e enfatizar que ela não é culpada pelas agressões;
  • Não incentivar que a criança revide com mais agressões;
  • Comunicar à diretoria/coordenação da escola;
  • Conversar com a vítima e permitir que ela expresse seus sentimentos;
  • Buscar auxílio de um psicólogo;
  • Realizar exercícios que ajudem a vítima a desenvolver a inteligência emocional;
  • Reforçar os laços afetivos com o jovem;
  • Não fazer críticas e não minimizar o problema;
  • No caso de cyberbullying, reunir provas do conteúdo abusivo.

Qual é o papel da escola para evitar o bullying escolar

As escolas têm um papel fundamental na luta contra o bullying. Além da responsabilidade institucional, como avisar os órgãos competentes e responsáveis pelo menor, elas devem adotar medidas de prevenção e enfrentamento desse problema.

De acordo com o CNJ, “a direção da escola, como autoridade máxima da instituição, deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça, poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos), a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial.”

Um dos primeiros passos para construir um ambiente no qual as crianças se sintam protegidas e seguras é combater o bullying, o que deve ser feito por meio de ampla conscientização.

A especialista em direito e gestão educacional, Ana Claudia Ferreira Julio, destaca sete práticas fundamentais, que podem ser aplicadas nas escolas para auxiliar na prevenção do bullying entre os alunos: política escolar, reconhecer sinais de alerta, criação de equipe multidisciplinar, comunicação com pais ou responsáveis, desenvolver programas de conscientização, procedimentos em casos de bullying e fomentar rede de apoio entre pares.

Uma das ferramentas de combate ao bullying é a informação e o diálogo, promovendo uma cultura de transparência nas relações educacionais. Para a psicóloga clínica Cynthia Coelho, “é importante conversar com pais e alunos sobre bullying, discriminação, segurança, seja em palestras, vídeos ou trabalhos escolares, de modo a instruir, conscientizar e educar as crianças e os adolescentes sobre o tema”, aconselha.” 

Além disso, a especialista reforça a importância de orientar os alunos sobre a necessidade de denunciar qualquer tipo de agressão ou violência sofrida ou testemunhada, no ambiente escolar ou virtual. Isso é fundamental para que a escola tenha ciência do fato e possa tomar as medidas educativas necessárias. No ano de 2019, dados do PeNSE indicaram que 40% dos estudantes adolescentes admitiram ter sofrido bullying. O ideal é que não haja bullying, mas que esse número possa crescer com o trabalho de conscientização.

Ações que podem ser feitas pela equipe pedagógica

Para combater esse tipo de violência, as escolas precisam de um programa bem elaborado e de um trabalho conjunto entre coordenação, professores, supervisores e psicólogos, caso a instituição os tenha. 

A Coordenadoria de Psicologia Educacional (COPED), subordinada à Superintendência de Políticas Educacionais (SUPED) da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul (SED), produziu o Manual: Ações de enfrentamento ao Bullying, destinado à equipe escolar nas ações de enfrentamento ao Bullying dentro do ambiente educacional.

No documento, são apresentadas dicas, como a elaboração de um plano de ação pedagógico e ações práticas. Confira:

  • Conversar com professores sobre o bullying escolar;
  • Observar e analisar como o bullying ocorre entre os alunos de um determinado grupo;
  • Promover ações e atividades educativas acerca do tema;
  • Avaliar os resultados dessas ações.

Como combater o bullying nas escolas: Ações para colocar em prática

  • Expor o bullying para os estudantes, transmitindo apenas  informações gerais sobre o tema;
  • Ao falar sobre bullying não fique reproduzindo a ação do agressor;
  • Esclarecer que bullying é violência, tipificado como crime, e não brincadeira;
  • Deixar bem claro que o bullying não será tolerado.
  • Na medida do possível, trabalhar o tema bullying nas atividades escolares;
  • Atividades devem conter mensagens antibullying e não serem reprodutoras do bullying;
  • Nas produções textuais, desenhos, cartazes e teatros a ênfase deve ser na forma como o bullying foi superado, em mensagens de amizade, solidariedade e respeito;
  • Estimular os espectadores a avisarem sempre que ocorrer bullying;
  • Interferir nos grupos para quebrar as dinâmicas de bullying, separar as panelinhas compostas por agressores;
  • Professor ou equipe pedagógica pode promover a escuta ativa, que é muito eficaz em estratégias antibullying;
  • Promover workshops, webinars e atividades que trabalhem o tema de forma educativa e sensível.

Conclusão

A escola deve ser um ambiente seguro e de compartilhamento de conhecimento. É inaceitável que casos de bullying nas escolas passem despercebidos e que não haja uma ação educativa para conscientizar a comunidade escolar sobre essa problemática.

Os alunos passam uma boa parte do tempo nas instituições de ensino, onde eles aprendem e criam vínculos que podem levar para toda a vida. Considerando que o Brasil é um dos países que mais registra casos de bullying no mundo, é fundamental que todas as atenções estejam voltadas para os alunos. Os professores têm um papel essencial nessa luta, pois podem orientar e esclarecer seus estudantes sobre a questão.

Como combater o bullying nas escolas é uma questão que todos deveriam refletir. É urgente tomar decisões para que haja uma redução no número de casos. O tema deve ser tratado frequentemente. No entanto, há datas em que é possível realizar atividades significativas. O Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola já passou, no dia 7 de abril, mas as escolas podem aproveitar o Dia Mundial de Combate ao Bullying, que ocorrerá em  20 de outubro, para organizar uma semana educativa. 

Segundo o pesquisador José Maria Avilés Martínez, doutor em Psicologia e professor da Universidade de Valladolid, na Espanha, em entrevista à revista Nova Escola, “a pior coisa que o professor pode fazer é fingir que nada aconteceu diante de uma situação de bullying”.  Ele enfatiza: “Sempre digo aos professores que eles precisam se antecipar. Já sabem que esse problema existe em todas as escolas e que eles são parte da solução. Por isso, quando um professor está explicando um exercício e acontece algo, ele precisa saber exatamente qual mensagem vai passar para vítima, agressor e demais alunos. Nessa hora, ele tem algumas opções. A pior delas é fingir que nada aconteceu e seguir lecionando”.

Chamaram meu filho de viado: como lidar com o bullying nas escolas

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