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O Potencial Gestante oferece informações e apoio sobre gravidez, maternidade e criação de filhos, ajudando famílias a tomar decisões conscientes.

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Empoderamento paterno: a importância da paternidade ativa

No dicionário, “pai” é um substantivo masculino que significa “homem que gerou um ou mais filhos”. No entanto, o conceito de ser pai é mais amplo e complexo. Um pai é aquele que constrói um laço afetivo, cuida, orienta e está presente na vida do filho, exercendo a paternidade ativa

Quando paramos para refletir sobre o que significa ter um pai presente, além da experiência pessoal de cada um, não podemos deixar de lembrar de grandes pais da ficção. Phil Dunphy, da série Modern Family, é um exemplo inesquecível de alguém que exerce e representa a função de pai de maneira exemplar.

Considerado aquele famoso “paizão”, ele é atrapalhado e não tem medo de errar, falhar e mostrar suas fraquezas para os filhos. Pelo contrário, isso os aproxima e torna a relação mais profunda, repleta de afeto e respeito. 

Mas, deixando a ficção um pouco de lado, nem todos têm a sorte de ter um Phil Dunphy como pai. No Brasil, em 2023, mais de 172,2 mil crianças foram registradas sem nome do pai, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) obtidos por meio do Portal da Transparência do Registro Civil. Neste ano, já foram contabilizadas mais de 91 mil crianças nessa situação. Mas será que isso afeta o desenvolvimento da criança? 

A ausência da figura paterna pode causar danos significativos e irreparáveis ao desenvolvimento emocional e psicológico de um filho, seja ele criança ou adolescente. A psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental, Lívia Garcez, em entrevista para o GZH, explica que “é cientificamente comprovado que a parentalidade pode ser nociva com a ausência do pai. Ele tem papel primordial na criação, educação, demonstração de afeto, carinho, proteção e limites. Normalmente essa falta é suprida por outras figuras de autoridade, um padrasto, tio ou avô, que conseguem ocupar parcialmente esse papel.

Enquanto existem pessoas que têm filhos mas nunca saberão o que é ser pai, há aqueles que abraçam essa missão com maestria. Neste guia, vamos explorar a paternidade ativa, um tema fundamental para a sociedade.

O que é paternidade ativa?

No passado, o pai era visto como o provedor da família, responsável pelo sustento, enquanto a mãe cuidava da casa e da criação dos filhos. Hoje, a situação é diferente, mas ainda não perfeita; os deveres são compartilhados, e, assim como as mães, os pais desempenham um papel fundamental na criação dos filhos.  

De acordo com o psicólogo e colunista da Revista Crescer, Alexandre Coimbra do Amaral, “colocar o filho para dormir”, “brincar com a criança” ou “ler um livro”. Mas a verdade é que a paternidade ativa vai muito além. “É se interessar pelo detalhe do detalhe do cotidiano. Não é ir para o parque e tirar uma foto — isso é pai ‘instagramavel’”.

Resumindo, a paternidade ativa são as ações cotidianas, como dar banho antes de sair ou ir para a escola, preparar o almoço, comparecer a reuniões escolares e sentar-se para assistir ao programa preferido da criança. Inclui levar os filhos para ballet e natação, acompanhando-os durante as aulas. Além disso, envolve observar o que eles gostam, conversar sobre suas preferências, oferecer apoio nos momentos de tristeza e perguntar o porquê de seus sentimentos. É o ato de dar carinho, apoio e atenção, desenvolvendo uma ligação afetiva e prática entre pai e filho. 

Coimbra comenta que a “paternidade ativa tem a ver com o cotidiano, que é uma das coisas mais cansativas; é não se permitir ser o que descansa primeiro. Envolve a decisão de se responsabilizar pela criação e dividir o ônus disso, com o mesmo nível de rigor que se tem na vida profissional”.

Para entender melhor, as ações de uma figura paterna ativa podem começar antes mesmo do nascimento do bebe. Isso se baseia no envolvimento do pai em todo o processo de planejamento reprodutivo, pré-natal, parto, pós-parto de sua parceira e nos cuidados no desenvolvimento da criança.

Mas como surgiu esse termo?

Foi a partir de um documento produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre paternidade no processo da educação. De acordo com o documento, um pai ativo não somente provêm o  conforme o documento internacional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), um pai ativo não somente provém o sustento financeiro de seus filhos, como também participa dos cuidados diários, criando e promovendo vínculos afetivos.

A Unicef define a paternidade ativa como aquela que inclui os homens nas tarefas de cuidado diário das crianças, tanto físico quanto emocional. “Ela implica estar envolvida e informada sobre os momentos do desenvolvimento do seu filho, desde a gravidez, o nascimento, a primeira infância, infância, até a adolescência. Isso significa acompanhar o pré-natal, as consultas médicas, a creche e a pré-escola, dividir os cuidados domésticos e fortalecer o vínculo com a criança”. 

Benefícios de uma figura paterna ativa

Quando o pai é presente na criação dos filhos, desde o planejamento reprodutivo até as fases mais avançadas da vida, traz benefícios não apenas para ele, mas também para a mãe e a criança, contribuindo para a melhora da saúde e bem-estar de todos. 

Assegura cuidados na gestação (pré-natal)

Os pais que participam das consultas e dos exames pré-natais ajudam a prevenir complicações na gestação, oferecendo apoio físico e emocional às mães, como no parto e no pós-parto. Nessa fase, eles recebem informações valiosas e têm a oportunidade de se preparar para o nascimento do bebê.

Auxilia no autocuidado da saúde

Os pais ativos tendem a cuidar melhor da própria saúde, adotando hábitos saudáveis, prevenindo doenças e realizando consultas médicas regulares.

Influência na decisão de imunização

O acompanhamento do calendário de vacinas é importante para a saúde da criança. Quando um pai monitora o ciclo de vacinas, ele contribui para a prevenção de doenças contagiosas e estimula outros membros da família a se vacinarem, promovendo a imunização de todos.

Fornece apoio financeiro e emocional

Os pais que oferecem apoio financeiro e emocional contribuem para o desenvolvimento completo dos filhos, fortalecendo os vínculos familiares e sociais. Enquanto o apoio financeiro envolve moradia, educação, alimentação, transporte e atividades culturais, o suporte emocional inclui afetividade, amor, atenção, compreensão e segurança.

Além disso, esse apoio fortalece o vínculo dentro e fora da esfera familiar, permitindo que as crianças desenvolvam relacionamentos saudáveis e se relacionarem melhor com os outros. Essa socialização é fundamental para o bem-estar emocional e mental da criança.

Benefícios durante o parto

O parto é um momento único e especial para as mães, embora possa ser intenso e desafiador. A presença dos pais no momento do parto pode oferecer conforto, segurança e carinho para as mães, além de permitir que eles vivenciem uma experiência única de conexão com o bebê.

Redução das violências

Segundo o Ministério da Saúde, os pais ativos podem prevenir e combater situações de violência doméstica, sexual e institucional, promovendo uma cultura de paz e respeito aos direitos humanos.

Compartilhamento de tarefas doméstica

Nesse caso, os pais dividem as responsabilidades domésticas com as parceiras, contribuindo para a igualdade de gênero. Além disso, eles tiram a sobrecarga da mãe e estimulam a autonomia e a cooperação dos filhos.

Apoia a amamentação exclusiva

A amamentação é importante para a saúde do bebê e da mãe. Esse ato, que contribui para a saúde física e emocional de ambos, pode causar dúvidas e problemas iniciais. Por isso, a presença dos pais é fundamental; eles podem ajudar na prática, ouvindo as mães, encorajando-as, compreendendo o esforço delas e ajudando nas tarefas do lar, permitindo que o momento de amamentação ocorra de forma tranquila. Esse momento fortalece o vínculo emocional entre todos os envolvidos.

Protege contra depressão pós-parto

Nesse caso, o acolhimento e a atenção dos pais em relação às mudanças emocionais das mães no pós-parto podem ajudá-las a superar possíveis quadros de depressão, ansiedade ou estresse. Esse acolhimento é fundamental para que as mães se sintam compreendidas, amadas e apoiadas.

Previne a mortalidade infantil

O acompanhamento dos pais na criação dos filhos pode ajudar a diminuir os riscos de mortes por causas evitáveis, como infecções, desnutrição ou acidentes. Se você está se perguntando como, saiba que a vacinação, uma alimentação adequada e um ambiente seguro estão diretamente ligados a essas causas evitáveis.

Redução do uso de cigarros durante a gravidez

O tabagismo passivo pode causar muitos danos às mães e aos bebês, como baixo peso ao nascer, parto prematuro ou malformações congênitas. No caso dos pais fumantes, ao parar ou reduzir o consumo de cigarros durante a gestação, eles protegem a vida dos seus bens mais preciosos: parceira e filho.  

Melhora desempenho cognitivo e afetivo das crianças

O envolvimento ativo dos pais desde a infância no desenvolvimento completo dos filhos é fundamental. Essa interação ajuda a promover o raciocínio, o aprendizado, a linguagem e as habilidades sociais e emocionais, além de causar um impacto positivo na autoestima, confiança e criatividade da criança. 

Além de todos esses benefícios, a presença do pai na criação dos filhos também influencia a educação, pois melhora o desempenho escolar das crianças. 

Ações que você pode realizar para exercer uma paternidade ativa

O Ministério da Saúde disponibilizou, em 2018, uma cartilha para os pais sobre como exercer a paternidade ativa. O documento traz um compilado de informações cruciais para o genitor entender como pode auxiliar e participar dessa fase tão importante, que vai desde o momento em que se descobre que será pai até se tornar um de fato. Por agora, confira algumas ações que você pode realizar para adquirir esse direito. Confira:

  • Apoiar a parceira durante a gestação, o parto e o pós parto, estreitando o vínculo familiar;
  • Realizar as consultas de pré-natal com sua parceira;
  • Realizar os exames solicitados durante as consultas de pré-natal;
  • Compartilhar com a parceira as tarefas domésticas;
  • Compartilhar com a parceira os cuidados com a criança como: dar banho, trocar fraldas e roupas, alimentar seu(sua) filho(a), colocar para dormir, entre outros;
  • Levar a criança para realizar consultas e para tomar vacinas;
  • Acompanhar a criança na escola/creche e nos estudos de casa;
  • Incentivar a amamentação;
  • Exercitar o carinho e o afeto pelo filho e parceira;
  • Brincar e passear com a criança;
  • Manter um clima de respeito com a parceira e a criança.

Desafios do pai ativo

Ser pai não é para qualquer um, exige responsabilidade e dedicação. É abdicar do individualismo em favor do bem-estar dos outros e pensar no “nós”. Como toda mudança, surgem desafios, e a seguir citamos alguns deles. Confira:

  • Readaptação na rotina: Os pais vão precisar lidar com as muitas situações e transformações que surgem na criação dos filhos;
  • Conciliar trabalho e família: Gerenciar o tempo entre trabalho e os cuidados com os filhos, assim como as mães já fazem;
  • Estigmas sociais: Apesar dos avanços, ainda vivem em uma sociedade machista, no qual o papel do pai se limita a determinados afazeres;
  • Consciência Emocional: Os pais precisam ter um olhar mais atento para perceber e lidar com as próprias emoções e as dos filhos, especialmente em momentos difíceis;
  • Saúde Mental: Os pais precisam lidar com o estresse e pressão que acompanham o cuidado e a educação dos filhos, como chamar atenção quando eles aprontam, administrar o tempo entre trabalho, autocuidado e as responsabilidades com os filhos, além de gerenciar as tarefas domésticas e garantir segurança financeira e emocional, entre outros.

Pais em Ação: Empoderamento paterno

Embora os avanços no conceito família sejam nítidos ao longo dos anos, a função do pai ainda é significativamente secundária. Desvincular o papel de provedor é difícil para muitas famílias, especialmente aquelas que têm raízes profundas nesse modelo.

Para mudar esse cenário e trabalhar pelo empoderamento paterno, a educadora parental Talita Costa, em entrevista ao Correio Braziliense,  lembra que, para construirmos esse imaginário de paternidade ativa e cuidadosa, será preciso um ativismo muito forte da parte dos homens, “o que significa bater de frente, por exemplo, com a desigualdade de gênero. Assim, é preciso lidar, inicialmente, com a própria masculinidade, mostrando-se disponível a se vulnerabilizar, visto que essa mobilização começa no se conhecer e se desconstruir, no se permitir sentir, estar presente e zelar pelo filho.” 

Empoderar esses pais e tornar situações como levar os filhos ao parque, lavar a louça de casa e dividir as contas de casa sem olhares preconceituosos mais frequentes, por exemplo, demandará muita conscientização e educação. No Brasil, algumas campanhas estão sendo realizadas para conscientizar sobre a paternidade, representando um começo para que, um dia, ela se torne totalmente ativa.

Projeto Pai Presente

O projeto Pai Presente é baseado no Provimento nº 12, de 6 de agosto de 2010, do Conselho Nacional de Justiça, o projeto “Pai Presente” visa reduzir o número de pessoas sem paternidade reconhecida no país, identificando os genitores e promovendo o registro de nascimento. Além disso, durante os encontros, são oferecidas orientações sobre direitos e deveres dos pais, bem como recursos para fortalecer os vínculos familiares.

Mês de Valorização da Paternidade

Em 2023 foi instituído o Dia Nacional de Conscientização sobre a Paternidade Responsável, comemorado em 14 de agosto. Segundo o site do Governo Federal, “a Coordenação de Atenção à Saúde do Homem (COSAH) incentiva e desenvolve ações voltadas à temática da paternidade, promovendo discussões com parceiros que se debruçam sobre o tema no Brasil e no mundo com o intuito de fortalecer os gestores estaduais e municipais para elaboração destas agendas nos territórios.”

Campanha Paternidade Responsável

Essa campanha tem como objetivo conscientizar os pais sobre a importância do envolvimento na criação dos filhos, enfatizando a paternidade responsável como fundamental para o desenvolvimento infantil.

Materiais Digitais e Impressos

Na internet, em fontes confiáveis, é possível encontrar materiais bem informativos sobre o tema, como a Cartilha para pais: como exercer uma paternidade ativa, do Governo Federal, e Amor de Pai: Exercendo a Paternidade Responsável, do Ministério Público do Piauí.

Está na lei

Embora a Constituição Federal reconheça que todo trabalhador tem direito à licença-paternidade, esse direito precisa ser detalhado e regulamentado. Enquanto isso não acontece, a duração da licença é de cinco dias. Atualmente, esse período pode ser estendido em até 15 dias para trabalhadores de empresas que aderirem ao Programa Empresa Cidadã (Lei 8.212, de 1991), totalizando 20 dias.

Campanhas publicitárias sobre paternidade

  • Seu teste chegou, da Novalgina: Essa campanha que questiona o sentido da real paternidade e reforça que a paternidade é fundamentada na presença;
  • Instinto Paterno, da Boticário: Reforça a importância do elo entre pais e filhos;
  • #MeuPaiPresente, da Natura: Pais mergulharam na rotina dos filhos;
  • Quando um pai está presente, tudo se transforma, do Bradesco: Um homem sai do escritório decidido a fazer a diferença na vida do seu filho;
  • Eu amo minha pãe, da Marisa: Mulheres aparecem descrevendo seus pais, até que no final os pais aparecem.

Pai ativo x Paternidade Socioafetiva

O pai sociofetivo é aquele que, mesmo sem os laços de sangue, compartilha os melhores momentos na vida de uma criança. É conhecido como o famoso “pai de coração”, ele é a representação daquele ditado popular “pai é quem cria”. O amor que sente é tão forte que busca formalizar os laços afetivos. Ele é a pode ser considerado uma representação de figura paterna ativa.

Hoje é possível incluir o nome do pai socioafetivo na certidão de nascimento. O reconhecimento da Paternidade Socioafetiva pode ser realizado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, quando envolve crianças de 12 anos ou mais. Caso tenha interesse, é recomendável consultar o site desses cartórios ou ligar para esclarecer dúvidas sobre os requisitos necessários. Já nas situações em que a criança é menor de 12 anos, mesmo que haja concordância entre todos os envolvidos, o procedimento deve ser feito judicialmente.

Conclusão

A paternidade é a qualidade ou condição de ser pai; qualquer um pode até ser, mas isso não significa que será uma boa figura paterna para seu filho. Por outro lado, a paternidade ativa é uma junção de ações do pai em relação ao filho e à familiar. É o zelo, o cuidado físico e emocional, a maneira única de olhar, falar e cuidar da criança.

Uma frase do poeta chileno Pablo Neruda, serve como reflexão para muitos pais: “o homem é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro de suas consequências.” Um pai até pode abdicar de sua função, mas jamais conseguirá recuperar o tempo perdido. Ele se torna prisioneiro de suas consequências.

Ser um pai presente e participativo pode até ser cansativo, assim como é para muitas mães exercem a responsabilidade de criar os filhos. Entretanto, traz muitos benefícios para o casal, para a criança e para a sociedade. 

Para o psicólogo Alexandre Coimbra, o pai que queira realmente assumir seu papel está construindo um novo jeito de perceber o vínculo com a criança. “Hoje, ele ensina pra esse filho como respeitar uma mulher, como prestar atenção à exaustão de uma mulher, como compartilhar lugares de poder com uma mulher. Porque isso, depois, vai ter uma implicação muito importante na vida da criança. Quando crescer, ela vai fazer parte de um mundo onde, provavelmente, poderá ser liderada por uma mulher no seu local de trabalho e precisa ter passado por um letramento de gênero não violento. Então, a paternidade, hoje, tem um papel muito crucial, diferentemente de outras épocas históricas.”

Empoderamento paterno: a importância da paternidade ativa

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